As falsas promessas das indústrias de biotecnologia, por Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos

Enquanto o projeto de lei que visa regulamentar a pesquisa e a comercialização de transgênicos no país continua parado no Senado, as falsas promessas das indústrias de biotecnologia vão caindo por terra. As experiências da Argentina e da Espanha vêm demonstrando a inviabilidade da agricultura baseada nas sementes transgênicas

Conforme artigo publicado na revista New Scientist de 17 de abril de 2004, em apenas seis anos a área cultivada com soja na Argentina cresceu mais de 74%. À custa deste incremento, culturas como milho, trigo e arroz perderam espaço. Os produtores do entorno dessas áreas que mantiveram seus sistemas diversificados de produção têm sido fortemente afetados pelo monocultivo massivo da soja.

A pulverização de herbicidas feita através de aviões acaba por banhar as propriedades que ficaram ilhadas em meio a mares de soja, aniquilando cultivos e animais e prejudicando gravemente a saúde das pessoas expostas à situação.

Ainda segundo o artigo, a monocultura associada a um único método de controle de plantas espontâneas (também chamadas de ervas daninhas), baseado na utilização de um herbicida, o Roundup, tem gerado graves conseqüências à agricultura argentina. Diferentes plantas já adquiriram resistência ao produto, e agora os produtores da soja transgênica aplicam mais que o dobro de herbicidas que os agricultores convencionais. Também em decorrência do desenvolvimento de resistência nas plantas invasoras, esses agricultores têm sido induzidos a usar misturas com produtos mais fortes, inclusive alguns à base de paraquat, ingrediente proibido em vários países.

A própria soja transgênica já está sendo considerada planta daninha, pois os resíduos da colheita brotam e crescem espontaneamente nos campos e não morrem com a aplicação do Roundup. Empresas como a Syngenta, através de campanhas publicitárias, estão estimulando agricultores a aplicarem misturas de outros herbicidas antes do plantio.

Essas pesadas dosagens de agrotóxicos aplicadas às áreas de cultivos transgênicos têm reduzido drasticamente a atividade biológica dos organismos que habitam o solo. Nas áreas de soja transgênica essa ?esterilização? do solo tem afetado a decomposição da matéria orgânica, que devolve nutrientes ao solo, e tem aumentado a incidência de doenças causadas por fungos que atacam raízes.

A Espanha é o único país da União Européia que cultiva transgênicos em escala comercial. Lá o milho transgênico da Syngenta, tóxico a lagartas, vem sendo cultivado desde 1998. Além de produzir cerca de 25% menos que a variedade convencional topo de linha, entre 1998 e 2000 não houve diferença entre variedades convencionais e transgênicas em relação ao ataque de lagartas (Instituto Técnico de Gestión Agraria del Gobierno Navarra).

Um relatório publicado em 2002 pelo grupo de trabalho sobre pesticidas do governo espanhol aponta que os prejuízos causados pelo ataque de lagartas no milho são pequenos e não justificariam a adoção de plantas transgênicas (Spanish Ministry of Agriculture - Report of the Working Group on Pests and Diseases in Extensive Crops. April 2002).

Governo e Senado não podem fechar os olhos diante desses casos que evidenciam as falsas promessas da indústria de biotecnologia. É fundamental que essas experiências desastrosas da adoção da biotecnologia na agricultura sejam levadas em consideração na definição da política brasileira sobre biossegurança.

Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil
Boletim N° 206

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