Brasil: "O consumidor comerá carne transgênica" (sic): superintendente da Agricultura no estado

Após ter minimizado a denúncia da venda ilegal de milho transgênico no Rio Grande do Sul, o superintendente da Agricultura no estado, Franciso Signor, confirmou ontem que as amostras analisadas a pedido do ministério indicaram contaminação de 93,5%, mais de três vezes superior ao valor encontrado pelo deputado estadual Frei Sérgio (PT), que tornou público o problema

Signor informou que a questão será levada ao Ministério Público Federal e a investigação caberá à Policia Federal. Estas mesmas medidas já haviam sido tomadas pelo deputado, que também integra o Movimento dos Pequenos Agricultores. Além disso, ainda segundo Signor, "Já temos a soja transgênica. Com o milho geneticamente modificado, o gado se alimentará desses produtos e o consumidor comerá carne transgênica" (sic). O superintendente também alerta para o fato de que o "Rio Grande do Sul perderá mercado lá fora" por conta da disseminação do milho transgênico.

A semente que está sendo vendida ilegalmente apresenta genes da variedade GA21, da Monsanto. Assim como na soja Roundup Ready, este milho é resistente ao herbicida Roundup, também da Monsanto. O algodão transgênico que também entrou de forma ilegal no País e que a CTNBio correu para legalizar, também é da Monsanto.

Quando começou a cobrar royalties pelo uso da soja transgênica, a Monsanto demonstrou que quando quer pode implementar um amplo e rigoroso sistema de controle sobre a produção obtida a partir de sua propriedade, isto é, as sementes patenteadas. Mas aqui essa etapa só se deu após uma generalizada disseminação das sementes RR pelo Rio Grande do Sul e em outros estados em menor escala, e após o governo aceitar que o fato estava consumado. Contudo, a empresa não moveu uma palha para evitar a fase da disseminação de sementes não autorizadas para uso, nem no caso da soja, nem no do algodão, nem agora com o milho.

Estudos já levantaram evidências de que a maioria, senão todos os transgênicos produzidos comercialmente, são geneticamente instáveis e desuniformes, e que isso resulta do próprio processo de manipulação genética [1]. O milho GA21 é um exemplo desse fenômeno. Uma pesquisa conduzida por dois laboratórios franceses mostrou que os genes nele inseridos se rearranjaram e adquiriram estrutura diferente daquela relatada pela própria empresa [2].

Em setembro de 2003 a Monsanto informou à Comissão Européia que estava desistindo de seu pedido para aprovação do milho GA21. Mais tarde, em maio de 2005, foi feita uma nova tentativa de se autorizar a entrada dessa variedade na Europa, mas a Comissão Européia rejeitou o pedido.

O ex-coordenador da CTNBio, que continua falando em nome da Comissão, informou esta semana que em sua última reunião, a CTNBio encomendara pareceres sobre cinco variedades de milho transgênico. Entre essas cinco estão duas variedades para as quais o estudo francês identificou os mesmos problemas de instabilidade genética. Como as características de um organismos dependem, entre outros fatores, da seqüência de seus genes e da forma como eles estão dispostos nos cromossomos, a alteração desses arranjos leva a modificações no próprio organismo, cujas conseqüências ainda são desconhecidas. Enquanto isso, mesmo parada a CTNBio corre para liberar outras espécies transgênicas.

[1] Allison Wilson; Jonathan Latham and Ricarda Steinbrecher. Genome Scrambling: Myth or Reality? Transformation-Induced Mutations in Transgenic Crop Plants. Ver aquí

[2] Collonier C, Berthier G, Boyer F, Duplan M-N, Fernandez S, Kebdani N, Kobilinsky A, Romanuk M, Bertheau Y. Characterization of commercial GMO inserts: a source of useful material to study genome fluidity.

Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Número 281 - 02 de dezembro de 2005
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil

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