Brasil: alta do preço dos alimentos

Idioma Portugués
País Brasil

A Radioagência NP dá seguimento às discussões levadas adiante por movimentos sociais e entidades civis preocupadas com a alta do preço dos alimentos. O programa abaixo postado tem o objetivo de fornecer mais informações para o leitor e ouvinte sobre o assunto.

“O feijão está no preço do arroz. Um absurdo, né? Antes dava pra comprar cinco quilos de feijão, hoje não dá. Quer dizer, aumentou mais do que a gente ganha. O ticket que a gente pega já não está cobrindo. O salário aumentou, mas o mantimento aumentou mais ainda”.

Quem mora na cidade nem sempre se preocupa com a agricultura, mas a indignação de dona Neide, trabalhadora da cidade de São Paulo que acabamos de ouvir, mostra que isso tem mudado em todos os cantos do país. Na realidade, em quase todos os cantos do mundo.

O aumento do preço dos alimentos é um fenômeno preocupante que já provocou revoltas em países bem diferentes como Peru, Cazaquistão e Egito. De acordo com a Via Campesina – entidade que reúne movimentos camponeses em quatro continentes – o preço do trigo aumentou 150% entre março de 2007 e março de 2008. O milho aumentou 35%.

No Brasil, o feijão subiu 125% de janeiro de 2006 a abril deste ano, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O arroz subiu 20% e o leite 28%. Pela primeira vez nos últimos três anos, o preço dos alimentos subiu mais que a inflação no Brasil. Mas afinal, porque estamos sofrendo com este problema?

De acordo com o integrante da coordenação internacional da Via Campesina, Egidio Brunetto, não existe um problema de produção agrícola nem de superconsumo, mas são outros fatores que provocam o aumento.

“Os produtos agrícolas passaram a ser commodities, que agora são vendidos nas bolsas de valores em ações. Então, a alta dos últimos meses tem origem na especulação financeira. Esses produtos são vendidos a seis ou sete vezes mais caros nas bolsas, sem em muitos casos existirem”.

A recente crise nos Estados Unidos fez com que muitos especuladores deixassem seus produtos financeiros e passassem a investir em matérias-primas. Assim, aumentou a especulação sobre os produtos agrícolas. Muitos especuladores apostam na escassez desses produtos e fazem com que seus preços sejam jogados ainda mais para cima. Para agravar o quadro, as poucas transnacionais que dominam o mercado agrícola mundial seguram seus estoques. O intuito é reforçar a idéia da escassez e valorizar ainda mais o preço dos seus produtos. Para se ter idéia da concentração da agricultura mundial, a área de grãos está sob controle de, basicamente, cinco transnacionais: as estadunidenses Cargill e Monsanto, a holandesa Bunge, a suíça Syngenta e a francesa Dryfuss. Já o setor de laticínios fica por conta da suíça Nestlé, da italiana Parmalat e da francesa Danone.

Para Brunetto, a produção de agrocombustíveis é outro fator que encarece os alimentos. Em um país aonde a soja e a cana avançam cada vez mais sobre as terras, produtos agrícolas básicos para a alimentação perdem terreno, sendo empurrados para terras mais longínquas e menos férteis, encarecendo a produção.

Para se ter uma idéia do aumento, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam que o arroz, em 1990, tinha cerca de 9% de participação no total de área plantada no Brasil. Em 2007, este número caiu para pouco mais de 3%. Já a soja, no mesmo período, avançou de 25% para mais de 35%. E a tendência é este quadro se agravar. Como os agrocombustíveis viraram a menina dos olhos do governo federal, os pedidos de financiamento para a construção de usinas de álcool cresceram mais de 560% só de janeiro a abril deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. As mobilizações contra o aumento do preço dos alimentos acontecem nos quatro cantos do planeta. No Brasil, diversos movimentos sociais se reúnem nas ruas e no campo para denunciar as grandes empresas que lucram sobre o aumento dos preços, enquanto parte do povo passe fome e a outra parte paga a conta. Como saída para a produção de alimentos saudáveis, sem venenos como os agrotóxicos, apontam a reforma agrária e a distribuição de renda.

Nós ficamos por aqui. Eu sou Vinicius Mansur.

E eu Joana Tavares.

Esse programa foi produzido pela Assembléia Popular – Mutirão por um novo Brasil. Nos vemos nas ruas em defesa da soberania alimentar.

Fuente: Radio Agência NP

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