Brasil: contra a invasão transgênica

Contra a vontade da maioria da população, a indústria da biotecnologia e suas ramificações governamentais vêm forçando a entrada dos transgênicos na agricultura e na alimentação em vários países. O ponto alto deste esquema é a consolidação de processos regulatórios deficientes, que chancelam a segurança desses produtos com base num tipo de ciência que não se sustentaria caso confrontada com uma ciência independente

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As reações a essa situação vêm se dando de diferentes formas e como iniciativa de diferentes setores da sociedade. Esta semana, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul/CUT) e a presidente da Comissão de Agricultura da Assembléia Estadual do Paraná, a deputada Luciana Rafagnin (PT), se reuniram com técnicos da Secretaria de Agricultura daquele estado para discutir uma parceria para a comercialização de soja paranaense nas áreas livres de transgênicos do bloco europeu.

O dirigente da Fetraf, Rui Valença, afirma: "não abriremos mão de negociar um 'prêmio', ou seja, um valor adicional à soja paranaense por ela não ser transgênica e por ser produzida dentro de certos critérios ambientais e sociais defendidos pela entidade". Em outubro, uma comitiva formada por representantes de 35 regiões européias livres de transgênicos visitará o Paraná para estabelecer essas parcerias.

Na semana passada, o Consórcio Varejista Britânico (BRC) fez um apelo à indústria brasileira de soja para que esta se oponha à expansão do cultivo das variedades transgênicas, alegando que "será extremamente difícil manter a confiança na cadeia alimentar caso os estoques de soja não-transgênica se esgotem". O apelo do BRC recebeu o apoio das principais organizações não-governamentais do Reino Unido. Em nota, o BRC reafirmou de maneira contundente a posição da indústria britânica de continuar fornecendo produtos livres de transgênicos a seus consumidores. O documento cita pesquisa de opinião mostrando que 79% dos ingleses não comprariam produtos contendo ingredientes transgênicos.

Outro sinal veio da Federação dos Agricultores do País de Gales, que enviou uma carta ao presidente Lula expressando sua preocupação com a liberação da soja transgênica no Brasil e lembrando-o da forte rejeição dos consumidores europeus aos alimentos transgênicos. Eles temem perder a confiança dos consumidores caso passem a usar ração animal feita com soja transgênica.

Por aqui a Batavo está fazendo algo semelhante. A empresa orientou seus cooperados a não plantarem soja transgênica nesta safra, destacando que há oito anos desenvolvem um trabalho de rastreabilidade que garante produtos livres de transgênicos e com maior valor agregado. Também justificam essa opção os levantamentos a campo feitos pela coperativa, que mostraram que a soja não-transgênica produz três sacas a mais por hectare que a modificada.

A partir do próximo dia 9, especialistas em transgênicos e em direito do consumidor de diferentes países se reunirão em Bologna, na Itália, em um seminário intitulado "Coexistência, contaminação e áreas livres de transgênicos: colocando em risco a escolha do consumidor?", organizado pela ONG Consumers International (CI) e pela administração da região da Emilia-Romagna. Já somam 1.806 os municípios italianos que se declararam livres de transgênicos. Também estão lutando contra os cultivos modificados 14 regiões (de 20) e 27 províncias da Itália.

Mesmo a Argentina, que só perde em área cultivada com soja transgênica para os EUA, vem dando boas notícias. O exemplo de San Marcos Sierras, primeiro município a declarar-se livre de transgênicos, deve ser seguido por La Cumbre. O município é de pequenas propriedades agrícolas e a expectativa é a de que outras localidades da região também assumam essa política e estabeleçam medidas para se tornarem livres de transgênicos. A Argentina tem 3,2 milhões de hectares sob manejo orgânico.

Além de consumidores e agricultores, cientistas também vêm se mobilizando contra o avanço indiscriminado dos transgênicos. Destacamos no último Boletim a carta dos cientistas do Painel de Ciência Independente (ISP, na sigla em inglês) ao embaixador do Brasil no Reino Unido e Irlanda do Norte, enfatizando a necessidade de o governo brasileiro tomar medidas para parar o plantio de soja transgênica e de qualquer outro cultivo geneticamente modificado. Eles pediram que o embaixador escrevesse com urgência uma carta ao presidente Lula sugerindo que ele reverta a decisão que permitiu o cultivo de soja transgênica no Brasil.

Iniciativas como essas se reforçam mutuamente e mostram que, ao contrário da invasão transgênica, a construção de um modelo agrícola mais sustentável se multiplica e conta com amplo respaldo da sociedade.
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Estamos recebendo numerosas adesões ao abaixo-assinado pela Biossegurança. O documento será enviado ao presidente Lula e a seus ministros no dia 7 de setembro, cobrando que a regulamentação da Lei de Biossegurança garanta a participação da sociedade, a transparência e a ausência de conflito de interesses nas decisões sobre transgênicos. Até o próximo dia 6 você e sua organização podem aderir. Saiba como participar em www.aspta.org.br.

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Continue participando da Campanha "Chega de veneno em nossa comida", contra a proposta do governo de flexibilizar o comércio de agrotóxicos no Mercosul e abrir o país a produtos que não passariam pelas normas de segurança atualmente aplicadas no Brasil. O ministério da Agricultura continua sua queda-de-braço com o Meio Ambiente e a Saúde e, portanto, sua participação é muito importante. Envie uma mensagem às autoridades brasileiras através da página do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor: http://www.idec.org.br/carta_modelo.asp?id=47.

Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Boletim Número 268 - 02 de setembro de 2005
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil

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