Entrevista de Luiz Antônio Barreto de Castro: opinião da Campanha por um Brasil Livre de transgênicos Boletín N° 109


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Entrevista de Luiz Antônio Barreto de Castro: opinião da Campanha por um Brasil Livre de transgênicos

Boletim Nº 109

 24-4-02

Muitos de nossos leitores devem ter lido a entrevista de Luiz Antônio Barreto de Castro, presidente do Centro de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa e ex-presidente da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) à revista Isto É da última semana.

É incrível a quantidade de bobagens e mentiras que este senhor, do alto de sua "autoridade científica", consegue dizer ao público.

Vejam as "pérolas":

(respondendo à pergunta 'qual a vantagem econômica destes alimentos?') "No caso da soja, os agricultores não precisam arar o terreno para o replantio. As sementes modificadas germinam no meio da palha que sobrou da colheita. Reduz-se assim a mão-de-obra para o preparo do solo."

O que vocês acham que leva este senhor a responder tamanha mentira? A resposta de Castro se refere à técnica de plantio direto, que nada tem a ver com o uso de sementes transgênicas. O plantio direto, que reduz significativamente a erosão do solo, já é amplamente difundido no Brasil, com qualquer tipo de semente. Existem, inclusive, experiências de sucesso com o plantio direto sem herbicidas no sul do Brasil. Como vocês sabem, a soja transgênica que se quer liberar no Brasil, a soja RR (Roundup Ready), da Monsanto, é resistente à aplicação do herbicida Roundup, da mesma empresa. Isto, em tese, facilitaria o controle do mato. Só.

"(...) Não é porque se errou com a vaca louca e até com a talidomida (remédio que prevenia o enjôo nas mulheres grávidas, mas provocava má formação nos fetos) que teremos de esperar 20 anos para liberar os transgênicos." E completa: "E não adianta dizer que eles não são naturais, porque são. Todos os genes são extraídos da natureza".

A questão não é esperar 20, 30 ou 50 anos para liberar os transgênicos. Devemos, sem sombra de dúvida, esperar até que haja certeza científica sobre a sua segurança, ao invés de apenas confiar nas empresas e nas autoridades, como aconteceu com a talidomida e a vaca louca.

E quanto aos transgênicos serem "naturais", que bom trocadilho, não? Agora os cruzamentos artificiais, que jamais aconteceriam na natureza, resultam em produtos "naturais".

"Todos os produtos que existem no mercado fazem mal e matam de alguma maneira. Descobriu-se que a Coca-Cola estaria supostamente contaminada com dioxina (essa substância foi empregada como arma química durante a Guerra do Vietnã). Os anabolizantes matam, os agrotóxicos matam aos milhares e nada disso é controlado."

Moral da história: "Deixa matar! Qual o problema??"

"A Europa tem interesse em ser do contra porque não consegue competir nem com o mercado agrícola convencional, quanto mais com um produto de preço menor. Quem vai ganhar dinheiro enquanto os transgênicos estiverem proibidos são as multinacionais de agrotóxicos".

Vamos lá: primeiro, as multinacionais de agrotóxicos são exatamente as mesmas que produzem e vendem transgênicos. Não é a toa, por exemplo, que a Monsanto desenvolveu sua soja para resistir ao seu herbicida. Com isso ela promove a "venda casada": compre a semente e seja obrigado a levar também o agrotóxico. E são elas que estão tentando atropelar as leis brasileiras para liberar seus produtos por aqui.

Segundo, quem puxou a reação de resistência aos transgênicos na Europa foram os movimentos ambientalista e de consumidores. No início os governos europeus não eram contra. Mas não puderam resistir à pressão da sociedade civil, que lá tem muita força.

Terceiro, o produto transgênico não tem custo menor. As experiências dos EUA e da Argentina estão mostrando que o custo pode até ser maior. Estes produtos estão com preço menor, devido à rejeição do mercado (o que, até agora, está favorecendo as exportações brasileiras).

"Em 2001, os plantadores de algodão do Mato Grosso reduziram em 28% a área cultivada. Não podem competir com o algodão alterado (transgênico) e mais barato dos americanos e chineses."

Passemos à matéria publicada na mesma semana (em 07/04) no jornal O Estado de São Paulo: "(...) em anos mais recentes, a história da soja se repetiu no caso do algodão. O produto pegou carona na leguminosa para crescer no cerrado, preenchendo a lacuna na rotação das lavouras. Na década de 80, o rendimento médio por hectare de algodão estava na faixa de 350 quilos e hoje chega, em algumas regiões, a ser duas vezes maior, observa o presidente as Associação Brasileira de Algodão (Abrapa), João Luiz Pessa. 'A produtividade brasileira é comparada à do melhor algodão do mundo e só é atingida em países que usam a irrigação, como a Austrália.' (...) 'Se os EUA parassem de subsidiar a produção local, a exportação brasileira -- hoje de 150 mil toneladas por ano -- poderia atingir a médio prazo 1 milhão de toneladas.'"

Outra matéria do mesmo jornal deu destaque à qualidade do algodão produzido no País: "(...) O resultado é de causar inveja à China e aos EUA, os maiores produtores. As exportações do produto brasileiro, que há dois anos estava na casa de 50 mil toneladas, triplicaram e a perspectiva seria de crescimento, se não fossem os elevados subsídios dados aos produtores americanos que distorcem os preços no mercado internacional e desestimulam o cultivo. Apesar dos obstáculos, a qualidade do algodão do cerrado já tem fama internacional. 'Traders alemães, suíços, italianos e ingleses já vieram comprar nosso produto', diz Adilton Sachet, produtor de Rondonópolis (MT)."

Não são necessários outros comentários a respeito, certo?

"(...) Os transgênicos não provocaram mal em sete anos, mas será que em 50 vão provocar? A pergunta não tem resposta. Cautela até quando?"

A introdução da Isto É à entrevista cita este comentário: "Ao seu ver (de Castro), a única forma de testar o risco desses produtos seria colocando-os no mercado."

Esta é a opinião do cientista (não é o único) que diz garantir a segurança dos transgênicos: devemos colocá-los no mercado e fazer o "teste de segurança" na população, em escala mundial e em tempo real -- como se fez com uma enorme lista de produtos tóxicos ao longo da história, proibidos só após comprovadas as inúmeras mortes por eles causadas. Vocês querem confiar?

(respondendo à pergunta 'O que é melhor para a saúde: o alimento orgânico, o convencional com agrotóxico ou o transgênico?') "O transgênico, claro. O Centro de Controle de Doenças dos EUA estima que o alimento orgânico causa 250 mortes e deixa 20 mil pessoas doentes ao ano em seu país porque utiliza apenas fertilizantes naturais, como esterco de porco e de boi. Não há certeza de que esse estrume esteja livre de microrganismos infecciosos."

Pensemos, apenas, nas seguintes situações:

a) O que acontece quando lavamos um produto orgânico? Os microorganismos são eliminados?

b) O que acontece quando lavamos um produto convencional tratado com agrotóxico sistêmico (do tipo que entra na circulação da planta)? O agrotóxico é eliminado?

c) O que acontece quando lavamos um produto transgênico?

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças do EUA estima que 250 pessoas morram e 20.000 fiquem doentes por ano no seu país devido à contaminação pela bactéria Escherichia coli e não ao consumo de alimentos orgânicos. Esta bactéria apresenta problemas em situações de baixa higiene e falta de saneamento básico e é completamente eliminada dos alimentos na lavagem.

Ninguém afirma que não seja preciso lavar os alimentos orgânicos. E ninguém morre (nem adoece) se consumir alimentos orgânicos bem lavados.

Castro, assim como seus colegas da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança / MCT), pretende convencer a população sobre a segurança dos transgênicos apenas com o "argumento da autoridade científica", ao invés de apresentar dados concretos que atestem sua opinião. E depois nós é que somos "anti-científicos", retrógrados. São estes "cientistas" que dizem (e o governo assina em baixo) que têm competência para decidir nosso destino como bem entenderem.

De um certo ponto de vista, declarações deste tipo acabam por nos ajudar. Observar o que diz um dos maiores e "mais conceituados" defensores dos transgênicos no Brasil deve deixar qualquer pessoa de mínimo bom senso e espírito crítico, por mais desinformada sobre o assunto que seja, desconfiada.

Campanha por um Brasil Livre de transgênicos

Boletim Nº 109
rb.moc.lou@gsnartahnapmac


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