Brasil: etnias se reúnem no Acampamento Nacional Terra Livre, que começa dia 16

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País Brasil

A partir da próxima segunda-feira (16), cerca de 800 lideranças, representantes dos mais de 230 povos indígenas do Brasil, estarão reunidos na Aldeia Urbana Marçal de Souza, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul (MS), para participar do VII Acampamento Terra Livre (ATL)

 

O encontro, considerado a principal assembleia e instância máxima de decisão do Movimento Indígena Brasileiro, seguirá até quinta-feira (19) com avaliações sobre as edições anteriores do encontro e a geração de demandas para o Governo brasileiro.

 

O Acampamento também será um espaço para detectar as promessas não cumpridas pelo governo brasileiro e formular, a partir de experiências já vividas, "reivindicações e propostas comuns para uma nova política indigenista do Estado Brasileiro, marcada pelo respeito total aos direitos fundamentais e originários dos povos indígenas".

 

Para Anastácio Peralta, indígena Guarani Kaiowá integrante da coordenação do Acampamento, o encontro é uma oportunidade para fortalecer a luta indígena.

 

"Este evento, em que se reúnem lideranças de todas as etnias brasileiras, serve para nos dar força e coragem para continuar a lutar por nossos direitos. Serve ainda para mostrar que estamos unidos pelos nossos objetivos e necessidades".

 

O ATerraL baseará sua agenda de debate nos temas: demarcação; criminalização de lideranças, impactos do Programa de Aceleração do Crescimento e dos grandes empreendimentos em Terras Indígenas; Estatuto dos Povos Indígenas; Secretaria Especial de Saúde Indígena; reestruturação da Fundação Nacional do Índio (Funai); Política Nacional de Gestão Ambiental em Terras Indígenas (PNGATI) e o Conselho Nacional de Política Indigenista.

 

Tradicionalmente, o Acampamento é realizado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no Distrito Federal, no entanto, a fim de dar maior visibilidade à situação dos indígenas Guarani Kaiowá, o encontro nacional foi transferido para o Mato Grosso do Sul. O intuito é chamar a atenção do Brasil e do mundo para a situação de penúria sofrida pelos indígenas do Estado.

 

Esta etnia tem sofrido com as investidas do governo e dos grandes proprietários de terra, que adotaram uma clara postura anti-indígena e chegaram a afirmar que o Mato Grosso do Sul não é terra de índio e nem será. Constantemente, os Guarani Kaiowá são perseguidos e atacados, muitos já foram expulsos de suas terras pela falha das demarcações e vivem à margem de rodovias, sem a mínima chance de sobrevivência. De acordo com relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), apenas em 2009, 33 indígenas foram assassinados no MS, cifra que representa 54% dos 60 casos ocorridos no Brasil.

 

Situação semelhante também é enfrentada pelos indígenas do Nordeste, entre eles, os Tupinambá, que têm suas comunidades localizadas no Sul da Bahia. A situação enfrentada por estes povos fará parte das principais discussões do encontro.

 

"Os latifundiários do Mato Grosso do Sul são muito fortes e ainda tem o apoio do governo estadual, que durante quase dois anos fez a campanha ‘Produção sim, demarcação não’. Nós denunciamos e a campanha foi encerrada. E é isso que nós vamos continuar a fazer. Junto com o Cimi e outras organizações indígenas estamos nós organizando uma campanha de nível internacional para denunciar o que acontece no Estado. Pretendemos ir à ONU, ao Parlamento Europeu e se for possível vamos também ao Vaticano, tentar apelar ao Papa", assegurou Anastácio.

 

Ao final dos quatro dias de encontro, as lideranças se reunirão para construir, a várias mãos, um documento com propostas e as principais necessidades dos povos indígenas do Brasil. O documento será entregue aos candidatos à presidência.

 

"Nós perdemos nossa terra, nossos peixes e nossa mata, mas não perdemos nossa cultura, nossa língua, nem nossos costumes e por isso não vamos desistir e deixar de lutar pela demarcação e por todos os nossos direitos", encerrou Anastácio.

 

Adital, Internet, 13-8-10

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