Agricultura brasileira poderia perder 16% do valor da produção sem abelhas e outros polinizadores, sob risco de extinção

Idioma Portugués
País Brasil
Desmatamento, queimadas, avanço da fronteira agrícola e secas mais frequentes causadas pelas mudanças climáticas colocam polinizadores em risco - Patrick T. Fallon / AFP

Dados do IBGE reforçam que a ação desses insetos é essencial para a produção de alimentos, a economia e a biodiversidade.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a contribuição dos  polinizadores animais para a agricultura brasileira é substancial. Parte do grupo dos invertebrados terrestres, eles são compostos por insetos como abelhas, borboletas, besouros e mariposas, muitos deles ameaçados de extinção. Segundo informações divulgadas nesta quinta-feira (17) pelo IBGE, a participação dessas espécies no valor da produção chegou a uma média de 16% do total em 2023.

A lista de espécies sob risco de extinção do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) revela que dezenas de tipos de polinizadores estão em situação de vulnerabilidade, perigo e perigo crítico de desaparecerem. A diminuição dessas populações impacta diretamente a produção de alimentos, a reprodução de plantas nativas e a manutenção do equilíbrio ambiental.

O Indicador de Contribuição dos Polinizadores no Valor da Produção (IVP) divulgado pelo IBGE considera o  impacto direto dessas espécies na formação de frutos e sementes que chegam ao comércio e são registrados em pesquisas. Os resultados comprovam a importância delas não apenas para a biodiversidade, mas para a economia e para a segurança alimentar do país.

Ainda de acordo com os dados, a contribuição é significativamente mais importante para produções de cultivo permanente e para o extrativismo. Nesse recorte há uma estimativa de que a ação dos polinizadores animais pode responder por mais de 45% dos ganhos em cima dos produtos cultivados.

No caso das culturas permanentes o índice do IVP chega a quase 40%. Essa produção engloba árvores frutíferas e plantas perenes, que ocupam o solo por longos períodos e permitem colheitas sucessivas sem a necessidade de novo plantio. Na lista estão, por exemplo, café, laranja, caju, cacau e guaraná, alimentos muito presentes na dieta brasileira e importantes para a economia nacional.

Mais de 71% das 35 culturas permanentes avaliadas têm algum nível de  dependência de polinizadores animais. Para 28% a necessidade dessas espécies é alta e para 17% essencial. A produção nesses sistemas triplicou desde a década de 1970, passando de 15 milhões de toneladas em 1975 para 45 milhões de toneladas em 2023.

Já a dependência que a produção extrativista tem dos polinizadores chegou a 47,2% do total de 2023. A conclusão reforça a importância vital da polinização para espécies nativas do Brasil, como o açaizeiro, que tem um papel essencial na dinâmica socioeconômica de diversas comunidades extrativistas da Região Norte.

A presença dessas espécies influencia a taxa de formação e a qualidade dos frutos, além de ser essencial para o número de sementes, o tamanho, o peso e o volume. Até mesmo a quantidade de açúcar, o formato e a concentração de nutrientes podem ser modificados pelos polinizadores.

Contribuição Regional

A importância dos polinizadores é tão crítica que, em 2023, cerca de 20% dos municípios brasileiros tinham um valor de IVP que correspondia a mais de um quarto do seu valor total de produção. Entre as regiões, os índices variam de 10% a 20% do total, mas, em alguns casos, podem superar 45%.

Na Região Norte, por exemplo, a contribuição a polinização é crucial para as culturas permanentes e representa mais de 60% do total, com destaque para o açaí, o café canephora e o cacau. No extrativismo, a dependência é ainda maior, girando em torno de 80%, tendo o açaí como principal produto.

Já no Nordeste do Brasil, a produção de itens como manga, cacau e uva, mantiveram a contribuição da polinização próxima a 50% ao longo do período analisado. No Sudeste, o índice varia entre 20 e 30%, puxado por produções como dos cafés canephora e arábica e da laranja, cenário semelhante ao do Centro-Oeste.

Na Região Sul, produtos como a maçã e a uva, que também de cultura permanente, tem alta dependência de polinizadores, elevando a contribuição da polinização para taxas que podem chegar a 50%

Como a pesquisa é feita?

O estudo do IBGE abrange o período de 1975 a 2023 para a agricultura e 1981 a 2023 para o extrativismo. As informações são baseadas nas Pesquisas Produção Agrícola Municipal (PAM) e Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS).

A PAM fornece informações sobre área colhida, quantidade produzida e valor da produção para culturas temporárias e permanentes. Já a PEVS detalha a quantidade e o valor da produção da extração vegetal, excluindo produtos madeireiros e da silvicultura que não têm relação direta com a polinização.

Para analisar a dependência dos produtos, os dados brutos dessas pesquisas passam por ajustes, como a conversão de unidades de medida para frutas e a padronização de espécies de café ao longo do tempo.

A taxa de dependência de polinização animal é obtida de fontes científicas. Os produtos são então classificados em categorias de dependência conforme a importância da ação animal para a produtividade.

Com isso, o Indicador de Contribuição dos Polinizadores no Valor da Produção é calculado, levando em conta o valor de produção de cada produto e o grau de dependência do processo de polinização.

Editado por: Nathallia Fonseca

Fonte: Brasil de Fato

Temas: Biodiversidad

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