Cresce a mobilização da oposição na Europa contra acordo entre União Europeia e Mercosul; assinatura fica para janeiro

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Protestos de agricultores terminou com repressão policial em Bruxelas; assinatura estava prevista para acontecer sábado.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou, nesta quinta-feira (18), aos líderes europeus reunidos em uma cúpula em Bruxelas que a assinatura de um acordo de livre comércio com o Mercosul será adiada para janeiro, informaram fontes diplomáticas à AFP.

A Comissão Europeia queria que o acordo, que criaria a maior área de livre comércio do mundo, fosse assinado esta semana, mas o plano foi minado depois que a Itália se juntou à França para exigir um adiamento, a fim de buscar maior proteção para o setor agrícola.

No dia anterior, manifestações de agricultores tomaram as ruas de Bruxelas contra a assinatura do acordo, prevista para acontecer no sábado (20). Este foi mais um exemplo de oposição à criação da maior zona de livre comércio do mundo, denunciada por movimentos populares tanto sul-americanos como europeus.

A França é o principal polo opositor do acordo, que facilita a entrada de produtos agropecuários sul-americanos na UE e industrializados europeus na América do Sul. Agricultores, franceses e de outros países da Europa temem a concorrência que viria deste lado do Atlântico.

Centenas de tratores se dirigiram nesta quinta-feira para Bruxelas, em uma demonstração da irritação dos agricultores contra o acordo comercial.

“Estamos aqui para dizer não ao Mercosul”, declarou à AFP o pecuarista belga Maxime Mabille. “É como se a Europa tivesse se tornado uma ditadura”, acrescentou, ao acusar a presidente da Comissão Europeia de tentar “impor o acordo à força”.

Os agricultores europeus expressaram a sua oposição ao pacto incendiando pneus e atirando batatas, o que levou a polícia a responder com canhões d’água e gás lacrimogêneo. Além disso, cerca de 950 tratores bloquearam ruas da capital belga, provocando uma forte presença policial em torno das instituições da UE.

“Ao menos na França, esse acordo pode gerar uma forte repulsa à ideia do bloco em si. Tenho escutado muito coisas como ‘se esta é a União Europeia, não queremos o bloco'”, disse ao Brasil de Fato Morgan Ody, da Via Campesina francesa.
“Este sentimento negativo em relação à União Europeia é algo novo e surgiu por causa desse acordo”.

Pressa de Lula

Lula pretendia assinar o acordo no sábado na cúpula do Mercosul em Foz Do Iguaçu junto com a Comissão Europeia. O presidente brasileiro fez um ultimato aos europeus na quarta-feira.

“Se a gente não fizer agora, o Brasil não fará mais acordo enquanto eu for presidente”, afirmou durante uma reunião ministerial em Brasília (DF). “Se disserem não, nós vamos ser duros daqui pra frente com eles”, declarou. O texto está em negociações há 25 anos e daria origem à maior zona de livre comércio do mundo.

Ursula von der Leyen precisaria do aval prévio da maioria qualificada dos estados-membros, mas vários países pediram o adiamento do acordo, entre eles França, Polônia e Hungria, que receberam a adesão da Itália na quarta-feira.

A chefe do Executivo europeu defendeu nesta quinta-feira, ao chegar à reunião de cúpula, a importância do acordo. “O Mercosul tem um papel central na nossa estratégia comercial: é um mercado potencial de 700 milhões de consumidores e é de enorme importância que consigamos a luz verde para completar a assinatura”, afirmou.

Mas o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu antes de reunião nesta quinta-feira sobre o tema a agricultores da França “que manifestam com clareza a posição francesa desde o início: consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”, ressaltando que a França fará oposição a qualquer “tentativa de forçar” a adoção do pacto comercial com o bloco sul-americano.

Ao Brasil de Fato a analista política francesa Florence Poznanski disse que “a maioria dos franceses é contra o acordo”.
“Já havia ocorrido no passado várias manifestações de sindicatos de campesinos e agricultores, inclusive organizações de direita também, da direita dos agricultores, inclusive o equivalente do nosso agronegócio francês, que tinha se posicionado contra”, disse ela.

Na mesma linha, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, afirmou também na quarta-feira que seu país não está pronto para assinar o texto.

“Seria prematuro assinar o acordo nos próximos dias”, porque algumas salvaguardas que a Itália deseja para proteger seus agricultores “não foram concluídas”, declarou Meloni em discurso no Parlamento.

Do outro lado, Espanha, Alemanha e os países nórdicos apoiam com veemência o pacto com o Mercosul, desejosos de impulsionar as exportações no momento em que a Europa enfrenta a concorrência chinesa e o governo estadunidense inclinado a impor tarifas.

“Seria muito frustrante que a Europa não conseguisse um acordo com o Mercosul”, declarou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

“Se a União Europeia quer continuar sendo confiável na política comercial global, então as decisões devem ser tomadas agora”, declarou o chanceler alemão, Friedrich Merz, em Bruxelas.

Porém, com França, Itália, Hungria e Polônia contra ou com uma tendência de abstenção, o acordo não obteria a maioria necessária na UE para permitir a assinatura, caso seja submetido à votação.

- Editado por Maria Teresa Cruz.

Fonte: Brasil de Fato

Temas: Defensa de los derechos de los pueblos y comunidades, TLC y Tratados de inversión

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