Cuidar da casa comum e superar a crise ambiental, um compromisso da sociedade e da Jornada de Agroecologia

Idioma Portugués
País Brasil
Foto: Diangela Menegazzi

Conferência “Projeto Popular para o Brasil e a Casa Comum” discutiu a crise ambiental e convocou a militância para o compromisso com a transformação social.

A manhã do sábado (9) na 22ª Jornada de Agroecologia foi de renovação das esperanças e dos compromissos de luta. Com auditório lotado, a conferência “Projeto Popular para O Brasil e a Casa Comum” recebeu Makota Celinha, Leonardo Boff, Camila Fachin e João Pedro Stédile, para uma conversa sobre os caminhos de superação da crise climática e social no Brasil e no mundo.

A partir de uma reflexão crítica ao modo de produção capitalista e de uma análise afiada da conjuntura atual, os convidados refletiram principalmente sobre o que os movimentos populares e a classe trabalhadora podem construir diante do contexto da crise, para superá-la, e também sobre os compromissos que a esquerda deve assumir nesse momento histórico.

A conferência teve como abertura a apresentação da Orquestra Popular Camponesa, projeto de orquestras e coros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que promove aulas de iniciação musical e prática orquestral em acampamentos e assentamentos do estado do Paraná e atende crianças de 6 a 16 anos, que estavam no palco. “O projeto da Orquestra existe, sobretudo, porque as periferias urbanas e o campo sofrem de uma carência profunda de oportunidade de acesso à arte, à cultura e à música, e isso não é bonito”, disse Igor de Nadai, coordenador do projeto, durante o ato. 

Foto: Guilherme Araki

A Orquestra apresentou canções da cultura popular brasileira, como “Asa Branca”, e das lutas internacionais, Como “Bonse Aba”, canção da Zâmbia, “Venezuela”, canção venezuelana, e o Hino da Internacional. “Esse trabalho só é possível pela ação coletiva, pelo trabalho de uma organização popular que busca superar as desigualdades e oportunizar o acesso aos jovens no campo”, completou. 

Arte e cultura para superar as desigualdades 

Após a apresentação, a conferência teve início, e reuniu importantes reflexões sobre a conjuntura atual. João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, alertou em sua fala para o perigo iminente da extinção da espécie humana. “De um lado, estamos vivendo uma grave crise no sistema capitalista, afetando a economia, o meio ambiente, o estado burguês, os valores da sociedade” disse Stédile. “E o capitalismo está em crise porque ele não consegue superar uma contradição fundamental: nunca na história da humanidade tivemos tanta desigualdade”, avaliou.

Foto: Guilherme Araki

Diante da análise, Stédile partilhou com o público os desafios organizativos do momento histórico, incluindo a formação política dos militantes, o compromisso com a taxação dos super-ricos e o fim da escala 6×1, pautas do  Plebiscito Popular, e destacou a retomada do trabalho de agitação e propaganda como uma tarefa fundamental. “Temos a necessidade de um trabalho educativo com o povo, não vamos ganhar as massas com discursos, o que educa as massas é a arte e a cultura”, disse. E completou: “O povo entende as ideias pelo sentimento e chegamos nisso pela arte. Vocês podem não se lembrar do meu discurso, mas vão se lembrar da orquestra”, disse se referindo à apresentação que tinha acabado de acontecer.

O projeto de uma nova sociedade será um projeto dos “de baixo” 

A manhã ainda contou com importantes contribuições de Makota Celinha, liderança dos povos e comunidades tradicionais de terreiro, que destacou em sua fala a questão do fascismo no Brasil. Makota partilhou a notícia de mais uma invasão a um terreiro no Brasil, que, segundo ela, acabara de acontecer em Minas Gerais, e falou sobre a importância de pensar uma sociedade em que não haja racismo nem intolerância religiosa.

Foto: Diangela Menegazzi

Para ela, o respeito às diferenças deve ser o denominador do projeto popular do Brasil: “A casa comum é a casa que tem respeito, que entende que todos nós somos diferentes, mas não temos que ser desiguais. Direito todos têm. E direito à diferença também tem que existir”, disse à plateia. 

Na sequência, Leonardo Boff apresentou um profundo panorama da crise climática, do aquecimento global e da sobrecarga da Terra e destacou a importância de criar alternativas que mantenham a humanidade viva. “Não estamos chegando no aquecimento global, já estamos no aquecimento global”, disse. “A ciência chegou atrasada, nós não podemos reverter o processo, só podemos advertir a chegada dos eventos extremos”, lamentou.

Foto: Guilherme Araki

Ainda assim, o militante se apresentou como um “pessimista esperançoso”. “O papa imagina que o planeta todo seja uma espécie de tapete, de regiões trabalhadas de tal maneira que a terra inteira se regenera e todo mundo possa caber dentro dessa casa comum” disse. “E as mudanças só vem de baixo, e todos os movimentos mundiais, que resistem, que fazem a economia orgânica, democracia participativa”.

Por fim, a vice-reitora da UFPR, Camila Fachin, agradeceu reforçando a importância da universidade cumprir com o seu papel de responsabilidade social. “A UFPR precisa estar junto com o povo, a universidade pública também é um espaço para a comunidade”, celebrou. Nas últimas seis edições da Jornada, a UFPR abre seu espaço para a realização parcial ou integral do encontro.

Foto: Guilherme Araki

Este ano, o evento também conta com o apoio da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).

A Jornada é realizada pela Associação de Cooperação Agrícola e Reforma Agrária do Paraná (ACAP) com o patrocínio do Sebrae, Itaipu Binacional, Fundação Banco do Brasil e Governo Federal.

Com colaboração de João Cordeiro.

Fonte: MST - Brasil

Temas: Comunicación y Educación, Crisis capitalista / Alternativas de los pueblos, Movimientos campesinos

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