Antropoceno e a destruição humana

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O termo Antropoceno ainda divide a comunidade científica. O principal desafio é delimitar uma data na qual o ser humano começou, de fato, a gerar danos irreversíveis à natureza.

Desde a publicação de um estudo da revista Nature, em 2020, os cientistas descobriram que toda a  massa construída pelos seres humanos havia superado o peso de todos os seres vivos do planeta pela primeira vez na história. Reiterou-se, então, o uso do termo  Antropoceno para designar as alterações que os humanos estão gerando no clima e na biodiversidade do planeta Terra.

Um dos pontos divergentes entre os pesquisadores é datar o momento em que o  homem fez com que o planeta passasse a uma condição em que os danos passaram a ser irreversíveis. Alguns estudiosos retornam para a Primeira Revolução Industrial, outros, já regressam para a Segunda Guerra Mundial.

Todavia, não importa quando e, sim, o que as pesquisas divulgadas pela revista Nature deixam claro: as mudanças globais provocadas pelos humanos foram aceleradas a partir do século XX, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, com o boom da tecnologia.

Para tratar do tema, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU convidou  Adriano Messias, doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, autor de um projeto de pesquisa sobre Antropocenocinema e tecnologias monstruosas. A conferência intitulada “Antropoceno e a ruína da democracia. A condição humana como monstruosidade” foi realizada virtualmente no dia 26-05-2022.

Adriano Messias exemplificou a história do planeta Terra a partir da imagem de um relógio de 24 horas: o ser humano - Homo sapiens sapiens - começou a viver às 23h58min. Dois minutos antes de completar um dia no relógio hipotético, o  homem transformou o ambiente mais do que qualquer outra criatura viva nos últimos milhões de anos. "A era que instauramos não é outra coisa senão uma imposição de um limite a partir do qual nos tornamos oficialmente a espécie que mais alterou o planeta em sua história", disse.

Antropoceno é resultado negativo exclusivamente causado pelas ações nocivas humanas. É algo que, além de estar “lá fora”, se faz presente também dentro de cada um ao levar a responsabilidade do descuidado contra o planeta. “O Antropoceno não é algo que está lá fora apartado de nós; ele também está em nós, humanos, em todas as formas possíveis. Ele revela-se tanto na  atmosfera poluída que nós respiramos, na chuva ácida que cai sobre as plantações e também no nosso sangue, já invadido por partículas de  microplásticos, por vírus novos ou ainda pelo nosso aparelho gástrico ‘bombardeado’ por produtos  hiperindustrializados que chamamos de alimentos”, enfatiza.

Ponto de não retorno

De acordo com o professor, o mundo humano chegou ao estágio conhecido como " ponto de não retorno", ou seja, não há mais nada que possa reverter o estrago provocado pela civilização. O que pode ser feito é a promoção de ações voltadas à sociologia para uma mudança de pensamento e, consequentemente, melhorar a maneira de lidar com os problemas mundiais para evitar a piora desse quadro. Segundo Messias, todos os antepassados do ser humano extinguiram outras espécies. “Será que nós também nos  autoextinguiremos?", questiona.

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, durante a coletiva de imprensa antes da COP-25, em 2019, disse que “o  ponto de não retorno não está mais no horizonte. Ele já está à vista e avançando na nossa direção. Todos os anos, a poluição do ar, associada às mudanças climáticasmata sete milhões de pessoas. As mudanças climáticas têm se tornado uma reação dramática à saúde humana e à segurança humana. Em resumo, as mudanças climáticas não são mais um problema de longo prazo. Agora estamos diante de uma crise climática global”.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

Temas: Crisis climática, Extractivismo

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