Jornada de Lutas de 2022 realiza marchas, ocupações e solidariedade Sem Terra

Idioma Portugués
País Brasil
Por Terra, Teto e Pão, Sem Terra marcharam de Feira de Santana a Salvador (BA). Foto: Coletivo de comunicação do MST/BA e Jonas Souza

Com o lema "Por Terra, Teto e Pão", Sem Terra de todo o país se unem pela Reforma Agrária Popular neste Abril de lutas.

Emoção, resistência e perseverança da sonhada Reforma Agrária Popular foram combustíveis para o Abril de lutas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Com ações planejadas para todo o país, o MST já marca o mês de Abril com a volta de alguns eventos presenciais após um longo período de pandemia da Covid-19, realizando ocupações de terra, acampamentos, marchas, atividades de solidariedade, doação de alimentos, plantio de árvores, atos públicos com intervenções em frente a órgãos públicos, cobrando a retomada da Reforma Agrária no país e a denúncia contra o modelo de produção do agronegócio.

Organizados para seguir na luta por Terra, Teto e Pão, os Sem Terra marcharam de Feira de Santana até Salvador, na Bahia; participaram de acampamentos pedagógicos da Juventude Sem Terra e denunciaram também os 26 anos do massacre de Eldorado do Carajás no Pará, onde 21 trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra foram brutalmente assassinados.

O mês de Abril é marcado por uma série de atividades no estado do Pará e relembrando o 17 de abril de 1996, em Eldorado do Carajás, quando duas tropas da Polícia Militar do Pará descarregam revólveres, metralhadoras e fuzis contra 1.500 famílias de trabalhadores rurais Sem Terra que marchavam para Belém com o objetivo de reivindicar a desapropriação de terras para Reforma Agrária. O resultado da operação é o Massacre de Eldorado do Carajás: com 19 Sem Terra barbaramente assassinados no local e 2 que morreram logo em seguida por conta dos ferimentos.

Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra na Curva do S, no Pará relembrou memória do massacre de Eldorado do Carajás que ocorreu no local. Foto: Ícaro Matos

De Norte a Sul do país, a Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária continua por todo o mês de abril, com ações simbólicas de memória e denúncia aos mártires de Eldorado do Carajás em mais de 50 pontos do país, envolvendo diversos estados brasileiros. As atividades internacionais também contaram com a participação de membros e amigos do MST.

Confira abaixo algumas atividades realizadas neste Abril de lutas:

Marcha Estadual da Bahia

O MST no estado da Bahia promoveu este ano uma marcha histórica de 110 km, dialogando com a população das cidades sobre a necessidade e importância da Reforma Agrária e denunciando o aumento da violência no campo. Durante os dias 11 a 19 de abril, a marcha contou com a participação de 3,5 mil trabalhadoras e trabalhadores Sem Terra de todo o estado.

Na manhã desta segunda (18), cerca de três mil Sem Terra chegaram com a marcha em Salvador e ocuparam o INCRA para denunciar a paralisação da Reforma Agrária. Foto: MST BA

Com o lema “Reforma Agrária Popular: Por Terra, Teto e Pão”, os(as) Sem Terra percorreram algumas cidades da Bahia, desde Feira de Santana até a capital Salvador, denunciando o assassinato dos militantes Fábio Santos e Marcio Matos e anunciando a necessidade e importância da Reforma Agrária Popular.

Cerca de três mil trabalhadores rurais chegaram hoje (18) pela manhã em Salvador e ocuparam o Instituto Nacional de Colonização e Reforme Agrária (INCRA) na capital baiana, denunciando a paralisação da Reforma Agrária, as perseguições que o INCRA vem fazendo com os movimentos sociais e a falta de políticas públicas para a produção familiar e camponesas das famílias assentadas e acampadas no estado.

Ocupar e resistir

Ocupar a terra para dar lugar à Reforma Agrária Popular é uma importante ferramenta de luta ao longo da história do MST. Além da marcha, os Sem Terra na Bahia também organizaram cerca de 105 famílias Sem Terra, que ocuparam a fazenda Mata Verde, em Guaratinga, no extremo sul do estado. A fazenda improdutiva não cumpre a função social da terra e sua ocupação tem como objetivo assentar famílias e pressionar o governo federal a retomar a desapropriação de terras para fins da Reforma Agrária na forma como determina a Constituição Federal.

No Ceará, cerca de 80 Famílias Sem Terra ocuparam a fazenda Lagoa dos Veados, localizada no município de Ipueiras. A área não tem cumprindo a função social da terra e atualmente vive em situação de abandono, enquanto famílias Sem Terras da região não possuem terra para trabalhar. O MST reivindica junto ao Governo do Estado do Ceará a compra da área, já que de acordo com a lei 17.533 de 22 de junho de 2021, denominada Wilson Brandão, o estado pode adquirir áreas para assentar famílias.

Na noite do último sábado (16), cerca de 170 trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra reocuparam um latifúndio improdutivo no Rio Grande do Norte. A fazenda, que já havia sido ocupada em 2016, fica localizada no município de Barra de Maxaranguape, no litoral Norte do estado. A área possui aproximadamente 1.500 hectares, encontra-se em zona de forte especulação imobiliária e não cumpre a função social da terra.

Como parte das ações da Jornada de Lutas de abril, MST ocupa latifúndios no RN. Foto: MST RN

Também no Rio Grande do Norte, no Dia Internacional da Luta Camponesa (17), cerca de 200 famílias Sem Terra ocuparam uma terra improdutiva com aproximadamente 950 hectares, a ocupação Paraíso dos Carajás, como foi batizada pelas famílias, está no município de Rio do Fogo, no litoral norte do estado.

Famílias do acampamento Quintino Lira em Santa Luzia, no Pará, também realizaram uma ocupação simbólica na Fazenda Cambará. Os maquinários que eram utilizados para destruir a área de reserva e as roças das famílias Sem Terra. A ação tem como objetivo garantir o acordo que foi assinado e descumprido pelo fazendeiro da região, Josué Bengston, pastor da Igreja Quadrangular e deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Na Paraíba cerca de 50 famílias do MST realizaram na madrugada desta segunda-feira (18), a ocupação na usina Maravilha, no município de Caapora. Segundo os Sem Terra, a usina está falida, e deveria estar dentro do programa de Reforma Agrária, mas os proprietários não aceitaram proposta de negociação oferecida pelo estado e o governo federal. A área da empresa, que faz divisa com o estado do Pernambuco, já foi ocupada em 2016 pelos Sem Terra, pois possuí grande potencial para o cultivo de alimentos e se encontra abandonada.

Pela memória dos mártires de Eldorado do Carajás
Região Amazônica

A Juventude Sem Terra da região Amazônica pode finalmente se reencontrar presencialmente na curva do S, em Eldorado do Carajás, no Pará, para o 16° Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra Oziel Alves. Realizado entre os dias 13 a 17 de abril, o encontro trouxe a esperança amazônica para resistir contra o fascismo e seguir lutando. Mais de 150 jovens dos estados do Pará, Maranhão e Tocantins de acampamentos e assentamentos de Reforma Agrária.

No Dia Internacional de Luta Camponesa, Sem Terra de acampamentos e assentamentos da região se reuniram junto à Juventude Sem Terra em torno da mística em memória aos 26 anos do Massacre de Eldorado do Carajás. O ato de fechamento da pista, na curva do S, local onde ocorreu o Massacre de Eldorado do Carajás, relembra a memória dos trabalhadores e trabalhadoras que seguem sendo brutalmente assassinados no campo pela violência do agronegócio.

Ato de fechamento da pista, na curva do S, também denunciou violência contra trabalhadores(as) do campo pelo agronegócio. Foto: Ícaro Matos

Em Roraima, Sem Terra realizaram o plantio de 21 árvores em homenagem aos 21 trabalhadores mortos no Massacre de Eldorado do Carajás. A ação faz parte também do  Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis no assentamento Comunidade dos Sonhos, em Mucajaí.

Na capital São Luís, no Maranhão, o MST pautou suas demandas junto ao INCRA, O Instituto de Terras do Maranhão (ITERMA) e a Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular (SEDIHPOP). A regularização fundiária e a denúncia sobre os conflitos agrários intensos que estão acontecendo por todo estado, por conta do avanço desenfreado do agronegócio na região do Matopiba, vem causando a contaminação dos rios e as constantes invasões de territórios tradicionais pelos latifundiários, foram pontos recorrentes em todas as três audiências.

Sudeste

No Rio de Janeiro (RJ), cerca de 150 militantes do MST ocuparam as imediações do prédio do INCRA no centro do Rio de Janeiro. As quatro regionais organizadas pelo MST no estado se concentraram na igreja da Candelária e marcharam em fileiras até o prédio do INCRA, instituto responsável pela política da Reforma Agrária.

Militantes Sem Terra se reuniram na ocupação Gercina Mendes, em Mirante do Paranapanema (SP), para um ato simbólico como parte da Jornada de Lutas. Além de lembrar a história das lutas do Abril Vermelho e a simbologia da Jornada Nacional deste ano, o ato foi importante para o debate sobre as terras públicas do Pontal do Paranapanema e a luta pela Reforma Agrária. O encerramento contou também um mutirão de plantio de árvores no acampamento para recuperação de uma nascente.

No assentamento Mário Lago, em Ribeirão Preto (SP), também foram plantadas 21 mudas em memória aos mártires do Massacre de Eldorado do Carajás. O bosque Neusa Paviato recebeu 21 novas mudas, entre Ipê Amarelo e muitas sementes de guandu abóbora, girassol, mamão, baru, tâmara, citrus, pimentão, coentro, etc. Também houve ato simbólico no assentamento Eldorado do Carajás, na regional de Andradina, no município de Pereira Barreto (SP).

O fim de semana também foi marcado por um ato político realizado em solidariedade ao Acampamento Marielle Vive! em defesa da Reforma Agrária. Localizado em Valinhos, na região metropolitana de Campinas-SP, o MST em São Paulo comemorou os quatro anos de resistência do acampamento e celebrou a resistência ativa da ocupação após viverem momentos de terror durante dois ataques consecutivos a tiros, que ocorreram contra o  acampamento no domingo (10).

Ato político em solidariedade ao Acampamento Marielle Vive! em SP. Foto: Edylei Gomes e Elineudo Meira (@fotografia.75)

Sul

Mobilização e solidariedade marcaram o Abril no Paraná. Na manhã do sábado (16), famílias acampadas no Norte do Paraná realizaram marchas e partilha de alimentos nos municípios de Porecatu, Florestópolis e Centenário do Sul. A ação envolveu as comunidades Herdeiros da Luta de Porecatu, Zilda Arns, Manoel Jacinto Correia e Fidel Castro. Antes das doações, as famílias acampadas marcharam rumo às paróquias dos municípios onde foram distribuídos os alimentos. No total, foram partilhadas 110 cestas de alimentos da Reforma Agrária, contando ainda com pães, bolos, leite e bebida láctea em cada cesta distribuída.

No Norte do PR as famílias do MST realizam ações de solidariedade com a partilhada de 110 cestas de alimentos da Reforma Agrária. Foto: Ceres Hadich, Diego Ferreira, Nickely Galdino e Hellen Figueiredo

Mais de 2.500 trabalhadoras e trabalhadores da cidade, camponesas, camponeses e indígenas marcharam pelas ruas de Curitiba(PR) na semana passada. Foram partilhadas de 10 toneladas de alimentos da Reforma Agrária na comunidade Nova Esperança, em Campo Magro (PR), comunidade da região metropolitana de Curitiba que acolheu mais de 500 militantes do MST nos dois dias de Jornada. Os alimentos foram doados para as famílias da Nova Esperança e também para comunidades indígenas da região.

MST na região Sul também se reuniu para debater o Plano Nacional “Plantar Árvores Produzir alimentos Saudáveis” em uma atividade reuniu cerca de 30 integrantes do MST dos estados do PR, RS e SC, na Escola Vinte e Cinco de Maio. O ato, realizado no assentamento Vitória da Conquista, em Fraiburgo/SC Fraiburgo, contou com roda de conversa durante todo dia, com formações e estudos relacionados à crise ambiental, também houve o compartilhamento de experiências de cada estado e o planejamento das ações do plano na região.

Centro-Oeste

Duas emblemáticas intervenções foram realizadas pelo Movimento Sem Terra em Brasília e Entorno. Na manhã do dia 6, militantes do MST protestaram em frente ao prédio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), em Brasília, DF. A manifestação buscou denunciar os casos de corrupção que vieram à tona nas últimas semanas relacionados ao Ministério da Educação (MEC) e ao FNDE. 

Já no dia 8 de abril, o protesto foi realizado em frente ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A manifestação denunciou a tentativa de aprovação do Pacote do Veneno, que está para apreciação no Senado Federal. Os manifestantes usaram lápides, soja e ossos para representar um cemitério, em analogia às mortes e doenças provocadas pelo uso e consumo de alimentos com agrotóxicos.

No estado de Goiás os Sem Terra também plantaram mais de 1.000 mudas de árvores e mais de 2.000 cestas de alimentos da Reforma Agrária foram distribuídas no estados, além de diversas ações que integram a Jornada de lutas de abril realizada com movimentos populares e organizações parceiras no estado.

Nordeste

O Coletivo de cultura do MST no Rio Grande do Norte realizou na noite de sábado (16) uma intervenção durante show da banda Francisco El Hombre em Natal-RN. A parceria com a banda, às vésperas do Dia de Luta Pela Reforma Agrária, reiterou a importância da arte e da cultura como dimensões fundamentais para a organização do Movimento.

Durante a Marcha Estadual, o MST na Bahia realizou ainda diversas ações, entre elas no município de Amélia Rodrigues. Na chegada à cidade, uma atividade de plantio de mudas no Quilombo Remanescente da Pinguela aconteceu com muita mística e contou com a participação de toda a comunidade, que plantou árvores em homenagem a memória da liderança do local, Dona Rita.

Na manhã de hoje (18), em Aracaju, o MST em Sergipe realizou um ato em frente a superintendência do INCRA, em homenagem aos mortos do massacre de Eldorado do Carajás. Os manifestantes se concentraram em frente a superintendência do INCRA desde as 8h.

Internacional

Em Marianao, Havana – Cuba, árvores foram plantadas em homenagem aos mortos do massacre de Eldorado do Carajás. Em Bayamo, também de cidade de Cuba, capital da província de Granma, árvores foram plantadas em memória aos 21 trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra mortos no Massacre de Eldorado do Carajás. Com a mística da solidariedade internacionalista, bandeiras, poemas, canções e rebeldia fizeram parte das homenagens.

Brigada Samora Machel, juntamente com Partido Socialista da Zâmbia realizou plantio simbólico de árvores em memória dos 26 anos do massacre. Foto: Iris Pacheco

Com a mística da solidariedade internacionalista, bandeiras, poemas, canções e rebeldia, a Brigada Samora Machel realizou junto com o Partido Socialista da Zâmbia um plantio simbólico de árvores em memória aos 26 anos do Massacre de Eldorado do Carajás (PA).

Outras ações da luta pela terra ainda prevista em várias estados durante todo o mês de abril. Em homenagem a todos/as os/as que tombaram na legítima luta pela terra nesses mais de 500 anos de concentração e espoliação, o MST se mantém na luta por Reforma Agrária Popular como projeto político necessário e urgente para o combate à fome e o desenvolvimento do campo no país. Só a terra distribuída, divida na mão dos trabalhadores e trabalhadoras, vai ajudar a acabar com a fome.

*Editado por Solange Engelmann

Fonte: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Temas: Movimientos campesinos, Soberanía alimentaria, Tierra, territorio y bienes comunes

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