Brasil: ameaça de despejo em acampamento contra a transposição

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País Brasil

Policiais já estão no local e impedem a entrada de novas pessoas na ocupação; manifestantes prometem resistência

Os 700 manifestantes que integram o acampamento montado com o objetivo de barrar as obras da transposição do Rio São Francisco estão ameaçados de despejo. Desde o final da tarde desta terça-feira (dia 3), homens da Polícia Militar estão barrando a estrada de acesso ao acampamento organizado por movimentos sociais e indígenas. A reintegração de posse está marcada para a quarta-feira (4), como confirmou a representante do Ministério da Integração Nacional de Salgueiro (PE), Elianeiva de Queiroz Viana. Batalhões da PM deste município já estariam sendo deslocados para a área às 4 horas de amanhã.

O governo federal obteve decisão favorável para o despejo no dia 29, mas até hoje os acampados alegam que não foram notificados da decisão. Elianeiva afirma que a Justiça Federal informou os manifestantes sobre a reintegração. O documento expedido pelo juiz da 20ª Vara Federal afirma que ação deve ter a presença da Funai e comandada pela Polícia Federal que poderá solicitar reforços da PM.

De acordo com fontes não oficiais, a PF tem a intenção de ir ao local do acampamento para tentar negociação com os indígenas da etnia Truká, que pretendem retomar o território cuja posse reivindicam. “Se não houver acordo, eles vão resistir. A idéia é continuar na área, mas sem colocar nenhuma vida em risco”, afirma Clarice Maia, da Articulação Popular São Francisco Vivo.

"Ninguém passa"

Os cerca de 15 policiais militares - todos sem identificação - em quatro viaturas, que fecharam a entrada para o acampamento, afirmaram estar ali por “determinação do comando da polícia”. De acordo com Clarice, ao questionar um dos policiais sobre a necessidade de um documento que explicasse o fechamento do acesso, ouviu: “não precisamos de documento nenhum. O documento somos nós. Por aqui ninguém passa”.

Segundo fonte que pediu para não ser identificada, durante a tarde de hoje, representantes do Ministério da Integração Nacional teriam telefonado ao cartório de Cabrobó para passar a terra para o nome da União, já que a fazenda estaria ainda no nome do fazendeiro Antônio Simões de Almeida. O governo desapropriou a Fazenda Mãe Rosa para as obras e negociou uma indenização no valor de R$ 1,29 milhão ao fazendeiro.

Ação truculenta

Nenhuma pessoa do Ministério da Integração Nacional ou outra instância do governo esteve no local para tentar algum tipo de negociação, o que “consideramos uma postura extremamente truculenta”, afirma Clarice. O acampamento completa uma semana nesta terça-feira (dia 3) e começou com 1200 manifestantes - ligados a organizações sociais, movimentos populares, povos e comunidades tradicionais dos estados de Alagoas, Sergipe, Bahia, Pernambuco, Minas Gerais e Ceará. Em menos de dois dias, o número de acampados subiu para 1500. No final da semana, várias caravanas que participaram da ocupação retornaram para suas regiões para aumentar a mobilização e reunir outros grupos para aderir à ocupação. Hoje, o acampamento conta com cerca de 700 pessoas, a maioria indígenas.

De acordo com nota, os manifestantes do acampamento consideram lamentável a informação de que o Ministério da Integração Nacional deverá doar o material da campanha em favor de obras da transposição que será deflagrada pelos governadores do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Ceará. “O ato é considerado manipulador e impossível de facilitar o debate amplo e democrático com a sociedade. O Ministério da Integração está sendo, na prática, ministério da desintegração, pois está espalhando a cizânia entre estados irmãos e entre povos irmãos”, diz Clarice.

Brasil de Fato, Brasil, 3-07-07

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