Brasil: após despejo, manifestantes garantem que mobilizações continuam

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País Brasil

Militantes estudam levantar novo acampamento nas imediações das obras para a captação das águas do rio São Francisco

Tatiana Merlino,
da Redação

Às sete horas da manhã desta quarta-feira (4), agentes da polícia federal, policiais militares, um oficial de justiça e um representante da Funai chegaram ao acampamento contra as obras da transposição, montado em Cabrobó (PE), para cumprir a ação de reintegração de posse determinada pela Justiça, no dia 26 de junho. O aparato montado para a desocupação contou com helicóptero, ônibus, dezenas de viaturas com policiais fortemente armados e ambulância.

Os indígenas e representantes de movimentos sociais que ocupavam a área há mais de uma semana não haviam sido informados que a reintegração iria acontecer quarta-feira. A notificação chegou pela manhã, junto com a reintegração da área e o despejo. Para evitar derramamento de sangue, os manifestantes concordaram em sair pacificamente da área. Eles tiveram tempo apenas para organizar seus pertences antes de sair.

Mobilização continua

Segundo os ocupantes, o despejo não irá impedir a realização de outras ações para barrar o projeto de transposição. “A luta só começou, nós não vamos deixar de nos manifestar”, disse Elio Batista, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) da Bahia e um dos integrantes do acampamento. Logo após o despejo, os militantes prepararam uma marcha para protestar contra a ação, considerada arbitrária. Segundo eles, é possível que outro acampamento seja montado nas imediações de Cabrobó. “Continuaremos a mostrar o quanto esse projeto não é viável para o Nordeste”, diz o representante do MAB.

Para Frei Gilvander Moreira, assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o despejo demonstra a truculência do governo Lula em relação ao processo do projeto da transposição. “Estão pisoteando a Constituição brasileira”, diz, referindo-se às arbitrariedades cometidas na condução do despejo. “Em primeiro lugar, a decisão saiu três dias depois do início do acampamento. Depois, num processo normal, a notificação tem que chegar antes da reintegração, e não junto com a polícia, na hora do despejo. Isso é um absurdo”, critica.

O assessor da CPT lembra ainda que o governo também agiu de maneira arbitrária em relação à área reivindicada pelo povo indígena Truká. De acordo com o artigo 231 da Constituição Federal, antes do governo iniciar um projeto em terras indígenas, precisa de aprovação do Congresso Nacional. “Isso não foi feito. É uma ilegalidade”, denuncia.

Ilegalidades

Os acampados destacam a presença de policiais infiltrados no acampamento. À paisana, sem farda, há quatro dias estariam tentando entrar no acampamento e teriam fotografado os manifestantes durante ato realizado no local. No despejo realizado nesta quanta-feira, eles estavam na entrada do acampamento e tentaram intimidar os manifestantes.

O cerco ao acampamento começou na terça-feira (3), quando homens da Polícia Militar barraram a estrada de acesso ao acampamento organizado por movimentos sociais e indígenas. Os cerca de 15 policiais militares - todos sem identificação - que fecharam, em quatro viaturas, a entrada para o acampamento afirmaram estar ali por “determinação do comando da polícia”. De acordo com Clarice Maia, da Articulação Popular São Francisco Vivo, ao questionar um dos policiais sobre a necessidade de um documento que explicasse o fechamento do acesso, ouviu: “não precisamos de documento nenhum. O documento somos nós. Por aqui, ninguém passa”.

Brasil de Fato, Brasil, 4-07-07

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