Brasil: glifosato provoca problemas de saúde

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País Brasil

No início deste mês, a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) conseguiu uma liminar na Justiça garantindo o uso do herbicida glifosato no Estado

O veneno é aplicado nas lavouras de soja geneticamente modificada. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) teme pela decisão e argumenta que o glifosato pode causar problemas de contaminação nas pessoas que manuseiam o produto e nos consumidores que compram a soja que recebeu este herbicida.

O assistente técnico da divisão de Alimentos da Sesa, Valdir Izidoro Silveira, informa que o órgão registrou 124 casos de intoxicação pelo glifosato em 2003, sendo que quatro deles resultaram em morte. Os números de 2004 ainda não estão fechados, mas outros 84 casos de contaminação foram verificados até setembro. Ele explica que o glifosato é um dos herbicidas contidos nas sementes de soja transgênica. "O glifosato é aplicado quando a soja já está crescida. Não causa danos para a soja, somente nas plantas vizinhas. A aplicação deste produto é muito prejudicial para a saúde da população", opina. Silveira comenta que o glifosato pode chegar até o consumidor final da soja. O veneno ficaria alojado no tecido gorduroso do grão.

Silveira explica que as reações de intoxicação com herbicidas normalmente atacam o sistema nervoso central, causando convulsões, além de serem cancerígenos. O técnico cita a tese de doutorado da bióloga Eliane Dellagrave, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como comprovação dos danos que o glifosato pode causar. Intitulado de Toxicidade Reprodutiva do Herbicida Glifosato-Roundup em Ratos Wistar, o trabalho da professora constatou que os principais efeitos da contaminação foram o aumento da massa relativa e alterações histológicas do fígado e dos rins nos ratos tratados com o agrotóxico.

Além disso, houve a redução na produção diária de espermatozóides, diminuição de níveis de testosterona e mudanças histológicas nos testículos. "A nossa maior preocupação é com a falta de pesquisas. Se tudo isso acontece em ratos, pode acontecer também em seres humanos. As empresas de engenharia genética só realizaram pesquisas sobre os efeitos com 150 dias de duração, que não possuem nenhuma representatividade", critica Silveira. A Sesa, em conjunto com as secretarias de Estado da Agricultura e do Meio Ambiente, está realizando divulgações dos riscos do glifosato para a população.

O assessor técnico da Faep, Jorge Proença, explica que a liminar permite o uso de glifosato na soja pós-emergência, ou seja, depois que mais da metade da lavoura tenha germinado. Ele contesta a posição da Secretaria de Estado da Saúde e argumenta que o produto possui baixa toxicidade, contendo a faixa verde em sua embalagem (registro de poucos efeitos nocivos). "Entramos com a ação contra o Estado porque este estava multando os produtores que vinham utilizando o glifosato e ameaçava destruir as lavouras", salienta.

A Faep informa que a Secretaria de Estado da Agricultura alega que o herbicida não possui cadastro do Paraná. A entidade rebateu dizendo que o glifosato já está devidamente registrado de acordo com a legislação federal. Na sentença, o juiz Péricles Bellusci de Batista Pereira, do Tribunal de Alçada, afirmou que "a utilização do glifosato é conseqüência lógica e óbvia do cultivo de soja geneticamente modificada, não havendo motivos jurídicos, econômicos científicos ou ambientais que possam implicar na dissociação destes elementos".

O Estado do Paraná, Brasil, 12-2-05

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