Seminário debate os transgênicos

Um grupo de parlamentares e representantes de ONGs assinou ontem manifesto pela moratória para o cultivo e comercialização de alimentos transgênicos no país

O manifesto foi lançado durante o seminário "Alimentos Transgênicos Aliança Internacional pela Moratória", que marcou a instalação do escritório da Fundação Heinrich Boll (ligada ao PV alemão) no Rio. Os signatários pedem a suspensão imediata de qualquer ação para legalizar a entrada dos organismos geneticamente modificados (OGM) no Brasil, com base no Protocolo de Biossegurança de Montreal.

O objetivo do manifesto é evitar que as brechas na legislação brasileira permitam que programas de OGM sejam plantados no país. Entre os signatários do documento, estão os deputados federais Fernando Gabeira (PV-RJ), Pompeo de Mattos (PDT-RS), Saulo Pedrosa (PSDB-BA), o secretário de Agricultura e Abastecimento do Rio Grande do Sul, José Hermeto Hoffman, e o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile.

"Sem a pressão da sociedade civil, os OGMs já teriam se disseminado no país há muito tempo", disse Marijane Lisboa, representante do Greenpeace. A empresa americana Monsanto, uma das líderes no comércio de sementes GM, hegou a obter um parecer favorável da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para o cultivo da soja RoundUp Ready, variedade da planta resistente a um tipo de agrotóxico, mas foi detida por uma ação do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), deferida em primeira instância.

"As grandes empresas de biotecnologia se aproveitam do falta de informação das pessoas sobre esse tema para avançar", afirmou o deputado Pompeu de Mattos. "E esse avanço é irreversível", completou. O manifesto, que estará disponível para adesões no endereço http://www.ibase.br partir de segunda-feira, pede a análise dos riscos ambientais antes de se plantar qualquer variedade vegetal GM no país. A legislação atual faculta à CNTBio o direito de encomendar ou não a análise.

De acordo com o deputado alemão Wolfgang Kreissel-Dörfer, do Parlamento Europeu, a questão dos transgênicos é ainda mais grave em países em desenvolvimento como o Brasil. "Quando se tem uma população grande de famintos, fica muito mais fácil se render aos alimentos propagandeados pelas empresas de biotecnologia como sendo melhores e mais nutritivos", alertou.

Na Europa, ao contrário, a rejeição aos transgênicos é crescente. "Estudos mostram que 80% a 90% dos alemães rejeitam os OGM", disse o representante do Instituto da Pesquisa Aplicada ao Meio Ambiente, na Alemanha, Svend Ulmer. A legislação comum à União Européia obriga que os alimentos com mais de 1% de OGM carreguem a informação no rótulo.

Para o líder do MST, João Pedro Stédile, o Brasil deve garantir a "soberania alimentar" (controle sobre a produção de alimentos) vetando completamente a entrada dos transgênicos. "Depois que a Revolução Verde fracassou, querem implantar o modelo americano no país", afirmou. "Isso é típico de um governo que não está interessado no pequeno produtor."

Jornal do Brasil, Quinta-feira, 1º de junho de 2000

Comentarios