COP dos Lobbies
"Fruto da parceria entre o observatório De Olho nos Ruralistas e a Fase - Solidariedade e Educação, este relatório busca jogar luz sobre essa captura do espaço público. Nas próximas páginas mostraremos oito estudos de caso sobre empresas brasileiras e multinacionais que se articulam — em alguns casos, há anos — para dominar a agenda da COP30 e atingir objetivos econômicos imediatos. De mineradoras a frigoríficos. De bancos a fabricantes de agrotóxicos e sementes transgênicas".
“Se você procurar a palavra tal no dicionário, vai achar a minha foto lá”. Essa brincadeira, comum em rodas de amigos Brasil afora, oferece uma reflexão interessante a respeito do
momento político e ambiental em que vivemos. Às vésperas da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), em Belém do Pará, é inevitável não se perguntar: que foto acharíamos no verbete cinismo? Ou em conceitos novos, como colonialismo climático? Que foto estaria colada ao lado da palavra greenwashing, essa
lavagem de imagem por meio da sustentabilidade corporativa?
O balcão de “negócios verdes” que vem se formando em torno das COPs desde o Acordo de Paris, em 2015, nos oferece algumas ideias. Vejam o exemplo da Vale: a empresa que destruiu ecossistemas inteiros na bacia do Rio Doce lança agora um álbum de figurinhas com árvores do Brasil e do mundo para promover a conscientização ambiental nas escolas de Belém. Vamos falar de árvores, Vale? Quantas sapucaias foram arrancadas no curso da lama tóxica após o rompimento das barragens de Fundão, em Mariana, e Córrego do Feijão, em Brumadinho? Quantas quaresmeiras? Quantos ingás?
A imagem do álbum de figurinhas não é a única que caberia em vários verbetes de nosso dicionário hipotético. Como categorizar o patrocínio de empresas com histórico de desmatamento a veículos de imprensa que irão cobrir a COP30? Ou a construção de pavilhões temáticos, ao custo de milhões de reais, em parceria (técnica e financeira) com os mesmos ministérios que deveriam fiscalizar essas corporações?
Não se trata apenas de oportunismo, estamos falando de lobby.
Esses lobbies corporativos não operam apenas nos corredores do Congresso e nos bastidores do governo. Eventos internacionais como a COP de Belém oferecem uma oportunidade única de pautar, não apenas as decisões políticas do próprio país, mas de abrir novos mercados em todo o mundo. Afinal, por trás de um objetivo nobre — a contenção da temperatura média global a, no máximo, 2ºC acima dos níveis prérevolução industrial — existem oportunidades de negócio.
Funciona assim: um relatório técnico da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) recomenda quadruplicar a produção de combustíveis sustentáveis para reduzir a dependência da energia de origem fóssil e controlar as emissões de CO₂. Em seguida, a presidência brasileira da COP internaliza essa meta e anuncia, em outubro de 2025, a plataforma Belém 4x, visando a construção de um acordo internacional em torno da quadruplicação. Se o acordo for aprovado, leis nacionais serão criadas (ou revisadas) para criar novas medidas de fomento ao setor. Leis escritas, em grande parte, por lobistas.
No caso brasileiro, biocombustíveis significam monocultura de cana de açúcar ou de milho. E significam um papel decisivo da bancada ruralista e de outras frentes setoriais nas discussões em torno da nova meta. E no fim das contas, estamos falando de território. De concentração fundiária e agrotóxicos. De queimadas e desmatamento (ilegal ou não). E de povos e comunidades tradicionais deslocados de seus lares.
Os lobbies que operam na COP30 — antes, durante e depois da realização do evento — têm impactos concretos sobre a vida das pessoas. Em particular aqueles que, historicamente, se veem apartados dos centros de decisão. Seja nos parlamentos, seja nas discussões climáticas. O futuro do planeta não deveria ser um balcão de negócios.
Observatório De Olho nos Ruralistas e FASE (Solidariedade e Educação)
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Fonte: De Olho nos Ruralistas

