Território e descolonialidade

Idioma Portugués
País Brasil
Sobre o giro (multi)territorial/de(s)colonial na “América Latina”

Este livro debate o chamado giro terrirotial na "América Latina" (questionando esta denominação) em sua relação com as abordagens de(s)coloniais. O território, visto sempre num processo de des-re-territorialização, é tratado tanto na sua acepção de categoria analítica, difundida principalmente a partir de geógrafos críticos, quanto como categoria da prática, envolvida em diversos movimientos sociais, especialmente aqueles dos chamados povos originários ou, no Brasil, tradicionais.

Considerações iniciais

Gostaria de iniciar com um relato bastante pessoal sobre como, mesmo sem essa designação, a forma de sentir/pensar/fazer de(s) colonização atravessou (e continua atravessando) minhas múltiplas trajetórias de vida. Isso ajuda a evidenciar, desde o início, como a perspectiva de(s)colonial não pode ser restrita a um modo de pensar ou a uma proposta teórica no sentido que muitos partilham. Apesar da ênfase epistêmica que será dada neste trabalho, por força de minha própria formação e competência para contribuir ao debate, é preciso reconhecer que de(s)colonizar –mais como verbo do que como substantivo– é, ao mesmo tempo, uma perspectiva de olhar/ ler e de vivenciar/praticar o mundo.

Em outras palavras, a de(s)colonialidade, muito mais que resultado de uma exigência acadêmica, um novo paradigma ou “corpo teórico”, é uma demanda da vida de pessoas/grupos reais que nos convocam como parceiros em busca não apenas de respostas, mas também de ações concretas que (n)os auxiliem na construção de um outro mundo –ou na abertura de horizontes para outros mundos possíveis–. Se considerarmos os “pecados originais” do sistema capitalista moderno colonial –a exploração econômica privatista e a mercantilização crescentemente universalizadas, a opressão político-cultural (ou racista-patriarcal) de um modelo civilizatório padronizado e a expropriação da vida e da natureza, em sentido amplo, em toda a sua etno e biodiversidade– poderemos afirmar que descolonizar é, na prática, um processo contínuo de resistência que acompanha, em diferentes níveis e escalas, toda a história do capitalismo.

Descolonizar, entretanto, pode ser ainda mais do que “descapitalizar”, no sentido de lutar contra a des-ordem do capital, a exploração econômica e o aniquilamento de subjetividades, inerentes à “colonização” de todas as esferas da vida promovidas por este sistema. Assim como podemos nos inspirar nas experiências ancestrais dos povos originários para organizar nosso combate e a construção de territórios alternativos, também não podemos esquecer que muitos desses povos, presentes antes da colonização, carregavam (e muitos ainda carregam) marcas profundas do patriarcalismo da violência e da opressão, da própria comunidade ou dela sobre outros povos. Muitos desses traços, é claro, foram exacerbados pela sociedade capitalista moderna, em cujo seio, contraditoriamente, também foram gestados inúmeros espaços de resistência e conquista de autonomia.

Descolonizar pode ser vista, assim, como uma dinâmica ainda mais ampla, na medida em que envolve a r-existência (no sentido de resistir para defender a própria existência) a todo tipo de dominação, expropriação e/ou opressão, como demonstrado pelas diferentes formas de exploração do trabalho, pelo domínio patriarcal, pelo racismo e pela aculturação compulsória, presentes em diferentes modelos civilizatórios. É apenas por força de sua magnitude, e também por um maior rigor analítico, nos parece, que autores já clássicos neste debate, como Aníbal Quijano, propõem restringir a “colonialidade do poder” ao chamado sistema mundo moderno colonial capitalista.

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Fonte: CLACSO

Temas: Ciencia y conocimiento crítico, Pueblos indígenas

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