¿Transgênicos? Não, por Leonardo Boff

Transgênicos resultam da transferência e alteração de genes de um ser vivo (vegetal, animal, ser humano, microorganismo) ao outro com o propósito de torná-lo mais saudável, produtivo e mais imune a pragas e a bactérias

A questão é altamente polêmica e envolve várias instâncias: os produtores, o mercado, os consumidores, a pesquisa, o poder público e a ética.

Produtores querem transgênicos, alegando dimuição de custos e aumento da produtividade com a vantagem de criar sementes mais resistentes a pragas. A crescente demanda mundia por alimentos reforçaria esse propósito.

O mercado busca ganhos. Algumas empresas mundiais (cinco ao todo) produzem sementes transgênicas que vão lentamente substituindo as naturais (erosão genética). Mas acabam monopolizando o mercado de sementes (uma delas controla 90%), tornando os produtores economica e tecnologicamente dependentes.

Os consumidores relutam em consumir alimentos geneticamente modificados por recearem consequências sobre a saúde no presente e no futuro. Levantamentos feitos dão conta de que mais de 60% da população européia é contra o consumo de transgênicos.

A pesquisa, ciosa de sua liberdade, continua a penetrar no segredo da vida, desvendando possibilidades novas para a saúde e a longevidade, advindas da biotecnologia.

O poder público fica perplexo, ora sob a pressão dos grandes capitais e do mercado, ora das afirmações contraditórias de cientistas, afirmando uns a biosegurança alimentar e ecológica dos transgênicos, insistindo outros que não dispomos de investigações conclusivas sobre seus riscos à saúde e ao meio ambiente. Que decisão tomar? Sua missão é cuidar do bem comum e resistir às pressões.

Em sua decisão, o poder público, instância delegada do poder popular, deve se orientar pela ética. Dois princípios são evocados: o da Responsabilidade e o da Precaução. O produto a ser introduzido deve garantir que nenhum malefício direto e indireto, global, cumulativo e de longo prazo vá afetar o ser humano e a cadeia da vida. A ciência no atual estágio não pôde ainda emitir tal parecer.

O que sabemos é que a natureza trabalhou bilhões e bilhões de anos para organizar o código da vida através de inter-retro-relações que envolvem a física e a química do universo. Uma célula epidêrmica de nossa mão contem, numa fantástica nanotecnologia, toda a informação necessária para a constituição da vida. Questão: não é só com muita reverência e precaução que o cientista ousa interferir nesse jogo complexíssimo, consciente de que cada gene tem a ver com todos os demais? Quanto ao fenômeno da vida, não é o paradigma científico newtiano que reduz e compartimenta, insuficiente para captar as implicações de todos os genes entre si? Quem nos garante que a bactéria resistente da soja Roundup Ready não vá terburbar o equilíbrio das bilhões e bilhões de bactérias que estão em nós? Por precaução e respeito a vida, se impõe colocar os transgênicos sob quarentena. Por enquanto não!

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