Alergenicidade de proteínas transgênicas

A FAO e a OMS comissionaram em 2001 uma consultoria de especialistas para discutir o problema de como testar a alergenicidade de proteínas transgênicas quando estas não são rotineiramente consumidas por humanos. Um dos resultados da consultoria diz que todos os alimentos transgênicos devem ser avaliados quanto a seu potencial alergênico: nenhum dos transgênicos hoje cultivados comercialmente foram avaliados de acordo com as diretrizes da FAO/OMS

s@raC s@gima,

Certa divulgação foi dada esta semana a um estudo de pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde de Lisboa, que concluem que alimentos derivados de plantas transgênicas inseticidas (Bt) e resistentes a herbicidas (como a soja RR) apresentam potencial alergênico equivalente ao de alimentos não-transgênicos, afetando somente pessoas que já têm histórico de reação alérgica. A pesquisa avaliou quatro variedades de milho, entre eles o MON 810, e a soja Roundup Ready, ambos desenvolvidos pela Monsanto.

O método usado na pesquisa foi criticado por outros pesquisadores, entre eles o Dr. Michael Hansen, da Consumers Union. Para ele, o maior problema do estudo é que ele não responde à seguinte pergunta básica: se as proteínas modificadas são ou não alergênicas. A questão verificada pelo estudo é se o processo de modificação genética aumenta o nível de proteínas que ocorrem naturalmente no milho e que podem causar alergia alimentar, aumentando, assim, a intensidade dos sintomas de reação alérgica. Esse é o tipo de estudo feito rotineiramente pela Monsanto e por outras empresas. Mas acontece que ele não permite saber se a proteína modificada produzida pelo milho transgênico tem ou não potencial alergênico.

Para resolver o problema de como testar a alergenicidade de proteínas transgênicas quando estas não são rotineiramente consumidas por humanos, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) comissionaram em 2001 uma consultoria de especialistas para discutir o assunto. Um dos resultados da consultoria diz que todos os alimentos transgênicos devem ser avaliados quanto a seu potencial alergênico.
Os autores portugueses dizem que as proteínas avaliadas (do milho e da soja transgênica) não contêm genes derivados de fontes conhecidas por causarem alergias em humanos. Para chegar a tal conclusão, de acordo com a FAO/OMS, o primeiro passo deveria ter sido comparar as proteínas transgênicas às que causam alergia em humanos, mas isso não foi feito. Aliás, Hansen destaca que nenhum dos transgênicos hoje cultivados comercialmente foram avaliados de acordo com as diretrizes da FAO/OMS.

Ele também ressalta que diversos estudos mostraram que há similaridades entre proteínas transgênicas e substâncias alergênicas. Um deles foi feito pelo Dr. Steven Gendel, chefe do braço do FDA (Food and Drug Administration, dos EUA) que realiza pesquisas em biotecnologia, e destaca a importância de essas comparações serem feitas com extremo rigor. Gendel cita o exemplo de um alergênico presente em ovos, cuja similaridade com a proteína Cry1A(b), presente em algumas plantas Bt, é motivo mais que suficiente para justificar pesquisas adicionais. As quatro variedades de milho Bt que a CTNBio permitiu que fossem importados da Argentina possuem a proteína Cry1A(b).

Hansen enfatiza que apesar de o estudo ser passível de críticas, ele conclui pela necessidade de se avaliar rotineiramente produtos colocados no mercado como forma de se monitorar seu potencial de desencadear reações alérgicas.

Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil
Número 269 - 09 de setembro de 2005

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