Brasil lidera denúncia na ONU contra Israel por interceptação da flotilha de ajuda humanitária à Gaza

Idioma Portugués
País Asia

O Governo Brasileiro liderou uma denúncia contra Israel no Conselho de Direitos Humanos (CDH) da Organização das Nações Unidas (ONU) por interceptação da Flotilha Global Sumud, que navegava rumo à Faixa de Gaza levando ajuda humanitária.

A carta elaborada pelo Ministério das Relações Exteriores e apresentada à ONU nesta sexta-feira já conta com o apoio de quase 70 países, entre eles África do Sul, Chile, China e Colômbia.

“Lamentamos esta ação militar, que viola direitos fundamentais e coloca em risco a integridade física de ativistas humanitários. Nesse sentido, Israel tem total responsabilidade pela segurança e bem-estar dos detidos”, declarou o embaixador brasileiro Tovar da Silva Nunes, no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Na última quinta-feira (2), o Ministério das Relações Exteriores publicou no site oficial uma nota condenando o que chamou de interceptação ilegal e a detenção arbitrária das embarcações que integram a Flotilha Global Sumud. “O Brasil exorta o governo israelense a liberar imediatamente os cidadãos brasileiros e demais defensores de direitos humanos detidos”, exige a nota, que destaca o caráter pacífico da flotilha.

“Sua interceptação por forças israelenses constitui grave violação ao direito internacional, incluindo o direito marítimo internacional, em particular a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM), que consagra a liberdade de navegação”, informa o Itamaraty.

Em um comunicado enviado aos veículos de comunicação, a assessoria de imprensa da flotilha afirma que todo o processo de captura dos barcos e dos tripulantes é “ilegal do início ao fim”.
“A interceptação em si viola o direito internacional, configurando um sequestro em águas internacionais. A tentativa de Israel de justificar essas ações com base na aplicação de seu bloqueio não se sustenta: o próprio bloqueio é ilegal, constitui punição coletiva e funciona como uma ferramenta central no genocídio em curso, incluindo o uso deliberado da fome como método de guerra”, alerta o comunicado.

Brasileiros na flotilha

Das 16 pessoas que compõe a  delegação brasileira da flotilha, 15 foram apreendidas por Israel – algumas estão em  greve de fome. O grupo foi capturado por barcos israelenses que interceptaram as dezenas de embarcações do comboio humanitário, a cerca de 120 km da costa palestina.

Horas antes do anúncio da denúncia na ONU, os organizadores da flotilha afirmaram que Israel interceptou a última embarcação, também nesta sexta. A apreensão aconteceu um dia após o bloqueio de quase todos os barcos.

No comunicado, os ativistas confirmam que a Marinha israelense interceptou ilegalmente as 42 embarcações. “Cada uma delas transportava ajuda humanitária, voluntários e a determinação de romper o cerco ilegal de Israel sobre Gaza”, informa a mensagem enviado pelo Telegram.

Na quinta-feira (2), os capturados brasileiros receberam a visita de advogados. Eles estão na prisão de Kesdiot, no deserto de Negev — uma instalação localizada entre Gaza e o Egito, a aproximadamente 30 quilômetros da fronteira egípcia.

Segundo a assessoria de imprensa da Flotilha Global Sumud, nas últimas 24 horas, advogados da Adalah — grupo israelense de direitos humanos — se encontraram com 331 dos 461 participantes do comboio no Porto de Ashdod.

“Após serem sequestrados em águas internacionais, os participantes foram forçados a se ajoelhar com as mãos amarradas por enforca-gatos, por pelo menos cinco horas, após alguns deles entoarem gritos de ‘Palestina Livre'”, informa a nota enviada à imprensa. O comunicado afirma que os ativistas “encontram-se em condições relativamente estáveis, e a Adalah segue monitorando de perto sua situação”.

Os últimos brasileiros a serem capturados foram Nicolas Calabrese, João Aguiar e Miguel de Castro. Integram também a missão humanitária Thiago de Ávila e Silva Oliveira, a deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) e a vereadora de Campinas, Mariana Conti (PSOL-SP), Bruno Gilga, Lisiane Proença Severo, Magno de Carvalho Costa, Ariadne Catarina Cardoso Teles, Mansur Peixoto, Gabrielle Da Silva Tolotti, Mohamad Sami El Kadri e Lucas Farias Gusmão.
O jornalista Hassan Massoud, portador de passaporte brasileiro e correspondente da rede Al Jazeera em São Paulo, não está preso ilegalmente em Israel, pois estava na embarcação Shireen, um barco observador, com juristas, parlamentares e jornalistas, que não cruzou a zona de risco e, portanto, não foi interceptado.

Ministro israelense quer prisão dos ativistas

Ainda nesta sexta-feira, o ministro da Segurança Nacional de Israel, o ultradireitista Itamar Ben-Gvir, afirmou que deportar os ativistas deportar os integrantes da Flotilha Global Sumud é um erro, defendendo que os ativistas deveriam ser presos por vários meses.

“Acho que eles devem ficar aqui por alguns meses em uma prisão israelense, para que se acostumem com o cheiro da ala terrorista”, declarou Ben-Gvir em uma publicação na rede social X. Ele argumentou que, ao repatriá-los, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu estaria incentivando os ativistas a “voltarem repetidamente”.

Editado por: Maria Teresa Cruz

Fuente: Brasil de Fato

Temas: Criminalización de la protesta social / Derechos humanos

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