Brasil: Encontro lança alerta sobre biopolíticas
Debates intensos sobre os direitos dos cidadãos e a pressão das grandes multinacionais sobre uma idéia excludente de "desenvolvimento"
Um debate intenso e pouco popularizado aconteceu nos dias 2 e 3 de setembro no Rio de Janeiro sobre o atual momento de transformação da vida em mercadorias. Sementes, conhecimentos populares, células e órgãos humanos, direitos das mulheres, valores éticos e muito mais estão sendo modificados em decisões políticas que estão distantes da população em geral, embora afetando diretamente suas vidas.
O evento foi organizado pela Ser Mulher e Fundação Heinrich Boll, reunindo movimentos de diversas regiões do país - pela Amazônia estavam entidades como a Rede GTA, Mama, Movimento de Mulheres do Nordeste Paraense, Fase (Pará) e Amazonlink.
Embora um resumo deva ser disponibilizado em breve no site da Ser Mulher, os temas dão uma idéia da complexidade do assunto e de sua importância.
No dia 2, depois da apresentação de Thjomas Fatheuer, o primeiro painel abordou novas tecnologias e biodiversidade com o jornalista Marcelo Leite (Folha) falando sobre nanotecnologia - engenharia de tamanho microscópico -, Cícero Gontijo (Inesc) abordando o acordo internacional de patentes, Marcos Terena (Inbrapi) falando sobre a questão do conhecimento indígena e David Hathaway (ASPTA) falando sobre biopirataria. O caso do cupuaçu, liderado pela Rede GTA, foi citado como um dos passos nessa grande luta.
O segundo painel, sobre biotecnologia e seres humanos, contou com Alejandra Rotania (Ser Mulher) falando sobre questões ligadas com a clonagem humana, Gabriel Fernandes (ASPTA) sobre os transgênicos e a agricultura, Denise Gomes (GTNA) sobre gênero e agricultura familiar e Marilena Correa (COEP) sobre as pesquisas com seres humanos.
Em todos os pontos, debates intensos sobre os direitos dos cidadãos e a pressão das grandes multinacionais sobre uma idéia excludente de "desenvolvimento".
No dia 3, o painel 3 abordou a questão da bioética e as novas necessidades de precaução com Carlos Plastino (UERJ/PUC) falando sobre a tecnociência, Jean Pierre Leroy (FASE) abordando como tudo isso está ligado com as agressões socioambientais vistas pela Plataforma DHESC, Jurema Werneck (Criola)lembrando do histórico da eugenia nas políticas brasileiras e André Soares (INCA)lembrando que a bioética externa precisa ser discutida na realidade brasileira.
O painel final, sobre estratégias, reuniu Ana Regina Reis (Ser Mulher) sobre controle social de políticas, Míriam Nobre (SOF) sobre atuação civil das redes e campanhas, Solange Rocha (SOS Corpo) abordando o cenário internacional e seus desafios, Cláudio Cordovil (UFRJ) sobre as confusões criadas pela mídia sobre o assunto e Rubens Nodari (MMA) falando sobre os impasses da Comissão Nacional de Bioética.
Em comum, a certeza de que os temas são amplos demais para que possam ser decididos por especialistas, sendo mais um assunto de economia política do que de ciência técnica.
Também foram lançados os livros "Sob o Signo de Bios", com artigos como de Laymert Garcia dos Santos, "Dossiê sobre Reprodução Humana Assistida" e "O Anjo Silencioso", sobre Heinrich Boll. O evento aconteceu no Museu da República, onde Getúlio Vargas desapareceu em 1954.
Essa citação do local se justifica pelo caráter republicano do evento, que visou chamar a atenção nacional e articular movimentos sociais em torno de políticas que se apresentam como técnicas (por isso o termo "tecnociências") mas que podem modificar completamente os valores que baseiam a relação da sociedade com seu meio ambiente e com sua cultura.
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