Brasil: Greenpeace organiza jornada de protestos sobre transgênicos
A campanha passará por 10 cidades em 9 semanas, a fim de mobilizar os consumidores a exercerem seu direito à informação, exigindo o cumprimento do Decreto de Rotulagem e promovendo uma resistência à entrada dos transgênicos no Brasil
BELO HORIZONTE - Belo Horizonte é a parada desta quinta-feira dos ativistas da organização não-governamental (ONG) Greenpeace, que percorrerão nove cidades brasileiras nas próximas duas semanas para protestar contra o consumo de alimentos geneticamente modificados.
Pela manhã, vestidos de cozinheiros, os ecologistas cumpriram a rota dos principais bares e restaurantes da capital mineira. Durante o percurso, o grupo distribuiu guias com informações sobre produtos transgênicos. Em outro gesto de protesto, os integrantes da ONG fingiram estar acorrentados a uma bola de ferro gigante para criticar a dependência da sociedade em relação aos artigos manipulados geneticamente.
***
Quarto Estado visitado pela organização possui alta concentração de bares e restaurantes; objetivo é mobilizar mineiros contra os produtos transgênicos
O Greenpeace visitou hoje diversos restaurantes na cidade de Belo Horizonte, com o objetivo de promover o Guia do Consumidor (1) e incentivar os donos e clientes dos estabelecimentos a não consumir transgênicos. A visita à capital do Estado que não tem produção de soja em larga escala, mas possuí alto consumo de produtos derivados faz parte da Campanha ?Essa não dá para engolir?, que o Greenpeace lançou na segunda quinzena de outubro em Porto Alegre (RS).
A campanha passará por 10 cidades em 9 semanas, a fim de mobilizar os consumidores a exercerem seu direito à informação, exigindo o cumprimento do Decreto de Rotulagem e promovendo uma resistência à entrada dos transgênicos no Brasil, utilizando o Guia como ferramenta. Além disso, os consumidores devem pressionar o Congresso, em favor de uma Lei de Biossegurança que garanta a necessidade do licenciamento ambiental, mantendo as competências dos ministérios do Meio Ambiente e da Saúde.
Na atividade desta quinta, onze ativistas vestidos como mestres cuca visitaram restaurantes do centro da cidade, carregando uma ?bola de chumbo? gigante caracterizada com o ?T? oficial da rotulagem dos produtos transgênicos. O objetivo da ação foi mostrar ao consumidor de Belo Horizonte o fato de que o País pode ser ?acorrentado? aos OGMs (organismos geneticamente modificados), e apresentar alternativas para que o consumidor interfira neste processo, dizendo não aos transgênicos. Durante a visita, representantes da organização realizaram uma pesquisa de opinião junto aos estabelecimentos, questionando a respeito de sua motivação em não adquirir produtos transgênicos.
Em Brasília, o governo federal editou em outubro a terceira medida provisória autorizando o plantio de mais uma safra de soja transgênica, sem os estudos de impacto ambiental necessários. Enquanto isso, o Congresso Nacional ainda discute o caráter do Projeto de Lei de Biossegurança (2), cabendo agora à Câmara dos Deputados decidir quando e como será aprovado o cultivo de transgênicos no País. Neste momento, a rotulagem dos produtos transgênicos é um direito do consumidor que não está sendo respeitado pelas empresas, com a conivência do Estado.
?Garantir que o Decreto de Rotulagem (3) seja cumprido é o mínimo que se espera do governo e das empresas, já que é papel de ambos zelar pelo meio ambiente e pelo direito do consumidor de dizer não aos transgênicos?, afirmou Gabriela Couto, bióloga da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace.
O Centro de Ecologia Integral e a Revista Ecologia Integral, atentos as conseqüências socioambientais advindas com a utilização dos transgênicos, apóiam a campanha do Greenpeace "Essa não dá para engolir" realizada nos restaurantes de Belo Horizonte. ?É urgente e imprescindível que a população se informe sobre o assunto para que um debate sério possa de fato acontecer? disse José Luiz Ribeiro de Carvalho, diretor do Centro de Ecologia Integral
Mais de 80% da população brasileira não quer que os transgênicos sejam liberados no País, e mais 90% se sentiriam menos motivados a comprar um produto, caso constasse no rótulo a informação de que o produto é transgênico (3). O Guia do Consumidor pode auxiliar essas pessoas a manter os transgênicos fora de seu pratos. A campanha ?Essa não dá para engolir? também oferece como ferramenta um site com informações básicas sobre o assunto, sugestões de atividades práticas, o Guia do Consumidor para download, e ainda mais informações sobre a campanha: www.greenpeace.org.br/consumidores.
NOTAS
(1) Confira o Guia do Consumidor - Lista de Produtos com ou sem Transgênicos atualizado (outubro/2004). Esta edição conta com a atualização da empresa Guabi, que adotou uma postura de controle para transgênicos e agora passa a integrar a lista verde do Guia.
(2) Decreto 4.680, de 24 de abril de 2003, e Portaria 2.658, de 22 de dezembro de 2003.
(3) Senado Federal aprovou no dia 06 de outubro o Projeto de Lei de Biossegurança que regulamenta a entrada dos transgênicos no país, sem a necessidade da exigência do licenciamento ambiental prévio. Esta decisão abre um gravíssimo precedente no país para que outros empreendimentos potencialmente causadores de impacto ambiental sejam autorizados sem licenciamento ambiental.
(4) Pesquisa ISER, julho 2004. Pesquisa Ibope, realizada com 2 mil brasileiros em dezembro de 2003, já indicava que mais de 90% da população brasileira acredita que produtos devem ser rotulados.
Fuente: O Globo Online y Greenpeace Brasil