Brasil: ¿Quem vai comer soja gaúcha?, por Jean Marc von der Weid
Apesar das repetidas declarações dos produtores gaúchos de
que não há restrições de mercado para a soja transgênica que estão produzindo ilegalmente a realidade é bem mais cruel
Até alguns anos atrás, os gaúchos exportavam para a Europa algo perto dos dois milhões de toneladas. Nos últimos três anos, estas exportações caíram a zero. Não houve pranto e ranger de dentes porque as exportações para a China cresceram e chegaram este ano a seis milhões de toneladas, enquanto o Paraná e o Mato Grosso, sem contaminações de transgênicos, ocuparam o espaço europeu. Isto ?prova? que não há problemas de exportação? Negativo, só prova que os problemas foram adiados.
Os gaúchos (e o governo brasileiro) se recusam a acreditar, mas os chineses estão planejando restringir e eliminar o uso de soja transgênica. Por enquanto, as restrições não estão ainda em vigor, pois a China está importando grandes quantidades e não tinha segurança de poder comprar tais volumes com garantia de não contaminação.
Espertamente, o governador do Paraná, Roberto Requião, está negociando a exportação de oito milhões de toneladas de soja convencional para a China, garantida pelos próximos 10 anos; um negócio realmente ?da China? para os agricultores paranaenses. Os chineses têm planos de se tornarem auto-suficientes em soja convencional no mesmo período e, coerentemente, preferem, enquanto isto, importar soja do mesmo tipo.
O Paraná, que produziu este ano 10,5 milhões de toneladas e exportou quase tudo para a Europa, ainda teria espaço para expandir a sua produção e exportação para a Europa, à medida que a demanda de soja convencional desta região vai crescendo em função da reação cada vez mais forte dos consumidores e das regras cada vez mais exigentes dos governos.
A Assembléia Legislativa do Estado do Paraná está votando um Projeto de Lei tornando o estado livre de transgênicos e o governo atual (como o anterior, do PFL) vem controlando com mão de ferro os plantios ilegais. Mesmo se houver uma liberação dos transgênicos no plano nacional, o estado ficará com uma posição privilegiada para explorar o mercado de soja convencional na Europa e na China. Deve ser por isto que, ao contrário do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, o governador Requião não vem se metendo no debate nacional sobre transgênicos. É uma estratégia esperta para ocupar mercado.
E a soja contaminada por transgênicos do Rio Grande? Se o Paraná ocupar o mercado chinês, os gaúchos vão ficar sentados sobre seis milhões de toneladas de soja sem ter onde vendê-la, independente de haver ou não uma liberação do plantio no Brasil.
Apesar da resistência míope de uns quantos líderes da grande agricultura paranaense ao Projeto de Lei, o governador Requião está dando uma tacada de mestre e pode dar grandes lucros à agricultura do Paraná e grandes prejuízos para o Rio Grande mesmo outros agricultores de outros estados, se não seguirem a mesma postura.
Jean Marc von der Weid: Economista da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e da Campanha Por Um Brasil Livre de Transgênicos
Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
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