Brasil: Saci vira símbolo de resistência cultural
Um movimento crescente quer transformar o 31 de outubro em Dia do Saci e de seus amigos, para não deixar nossas crianças conhecerem apenas as bruxas do norte. E não apenas. Que o Curupira tem os pés virados pra trás, todo mundo sabe. Também se sabe que nem é bom se mexer quando a gente vê o Boitatá. Mas o Mapinguari e o Pé de garrafa, você conhece? Abaixo, você pode saber alguma a mais sobre o Saci e seus amigos, inclusive de outros países
Você sabe quem é Yasi Yateré? Então, confira... e apoie a campanha. Aliás, você sabia que em Belém do Pará aconteceu em outubro do ano passado também um ato de resistência cultural semelhante, a Semana da Matita Pereira?
Saci
Manifesto do Saci
Um espectro ronda a indústria da cultura. Como já ocorrera durante a I Guerra Mundial ? quando os chamados ?povos civilizados? se matavam entre si nos campos da Europa, como lembra Monteiro Lobato em seu Inquérito, escrito em 1917 ?, o espectro do Saci voltou para dar nó na crina das potências que invadem os outros países com uma ?indústria cultural? predadora e orquestrada.
O Saci é reconhecido como uma força da resistência cultural a essa invasão. Na figura simpática e travessa do insigne perneta, esbarram hoje, impotentes, os x-men, os pokemon, os raloins e os jogos de guerra, como esbarravam ontem patos assexuados e ratos com orelhas de canguru.
É tempo, pois, do Saci expor abertamente seus objetivos, lançando um manifesto e denunciando o verdadeiro espectro: o espectro do imperialismo cultural. Para tanto, outros expoentes do imaginário cultural brasileiro ? como o Boitatá, a Iara, o Curupira e o Mapinguari ? reuniram-se e redigiram o presente manifesto.
A cultura popular é um elemento essencial à identidade de um povo. As tentativas insidiosas de apagar do imaginário do povo brasileiro sua cultura, seus mitos, suas lendas, representam a tentativa de destruir a identidade do nosso país. A história de todas as culturas até hoje existentes é a história de opressores e oprimidos. Hoje, como ontem, o Saci apóia, em qualquer lugar e em qualquer tempo, qualquer iniciativa no sentido de contestar a arrogância, a prepotência e a destruição de que é portadora a indústria cultural do império.
O Saci não se reivindica como símbolo único e incontestável da cultura popular brasileira. O Saci trabalha pela união e pelo entendimento das várias iniciativas culturais que devolvam ao nosso povo a valorização de sua identidade cultural. O Saci não dissimula suas opiniões e seus objetivos e proclama, abertamente, que estes só podem ser alcançados por um amplo movimento de resistência cultural, denunciando os malefícios da indústria cultural imperialista. Que ela trema à idéia de uma resistência cultural popular. Nesta, o Saci nada tem a perder a não ser seus grilhões. E tem um mundo a ganhar.
Sacis de todo o Brasil, unamo-nos!
Ata de fundação e Carta de princípios
Criada em São Luiz do Paraitinga, a SOSACI é uma ONC (Organização Não Capitalista) que reúne os interessados em valorizar e difundir Não Capitalista) que reúne os interessados em valorizar e difundir a tradição oral, a cultura popular e infantil, os mitos e as lendas brasileiras. Seus integrantes acreditam no saci, na Iara, no boto, no curupira, na cuca, no boitatá e nos demais entes do folclore nacional.
O objetivo da associação não é caçar nem manter em cativeiro o saci ou qualquer dos seus parceiros da tradição popular. A meta da SOSACI, como o próprio nome indica, é observar e estudar o insigne perneta e seus companheiros, em suas diversas manifestações, e divulgá-los por meio de textos, músicas e outras artimanhas. Busca, ao mesmo tempo, promover e incentivar a leitura e elaboração de obras comprometidas com nossos valores e raízes.
Nesse sentido, pretende instituir o Dia do Saci, em data a ser definida. Porque o saci simboliza a resistência aos super-heróis e aos personagens dos filmes e desenhos importados, que infestam o imaginário de nossas crianças e jovens. Ele desafia e enfrenta os estrangeirismos que corroem o idioma nativo, em detrimento da nossa cultura e autonomia.
A SOSACI não é uma entidade xenófoba. Nem pretende trafegar na contra-mão da história do mundo globalizado. Mas ela tem orgulho de ser brasileira e, ao lado dos povos irmãos da América Latina, reivindica reciprocidade na relação com as nações hegemônicas do dito Primeiro Mundo. Ela crê que o repertório mitológico do nosso país é bastante rico, permitindo trocas de mão dupla com os cidadãos da comunidade planetária.
Através de Ata, assinada por seus membros-fundadores, a SOSACI dá o pulo inicial. Aceita novos filiados, desde que se disponham a assumir e respeitar os princípios aqui estabelecidos.
São Luiz do Paraitinga, julho de 2003
Saci