Brasil: avanço dos madereiros em direção a amazonia, por Carlos Mendes

Desmatamento de florestas preocupa os ambientalistas: O desmatamento da Amazônia em 2003 deverá ser ainda maior do que os inaceitáveis 25,5 mil km quadrados estimados pelo governo para o período agosto/2001-agosto/2002 - que já representam um aumento de 40% na área destruída em apenas um ano

A taxa de 2002, agora divulgada, está bem acima da média anual (21.130 km quadrados) da época mais trágica da Amazônia - os anos 70 e 80, conhecidos como ?décadas da devastação?.

De acordo com o coordenador de campanhas do movimento ambientalista Greenpeace na Amazônia, Paulo Adário, se a sanha das motosserras e tratores derrubaram o equivalente a 5,1 milhões de campos de futebol em 2002, a opinião pública deve se preparar: ?Nossas observações de campo e análise de dados mostram que vem aí um novo recorde de destruição para matar os brasileiros de vergonha?.

Para ele, independente das medidas a serem adotadas pelo governo Lula para reverter os números de desmatamento daqui para a frente, a destruição já foi feita e a próxima taxa anual (2002-03) deve mostrar uma goleada das forças que se dedicam à devastação da Amazônia. Só há uma saída: o governo deve adotar o ?Desmatamento Zero? - um programa que, a exemplo do ?Fome Zero?, se destine a resolver o problema a longo prazo?.

Causas - Parte da explicação para o aumento supreendente está na ampliação da área plantada na região, no boom do gado, da soja e do arroz que crescem sem controle em direção ao coração da Amazônia. Também pesa a desvalorização do real no início de 2001, a maior competitividade da madeira abatida impunemente na região, a inexistência de crédito para manejo sustentável dos recursos florestais e a crônica incapacidade de implementação por parte de órgãos governamentais fragilizados por anos de sucateamento orçamentário.

Segundo o Greenpeace, o problema fugiu do chamado ?Arco do Desmatamento? - que vai do leste e sul do Pará em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre -, impulsionado por um consórcio madeira-pastagem-produção de grãos para exportação. Não se trata mais de pequenas frentes de desmate provocadas por colonos que se instalam em áreas remotas, mas grandes áreas de florestas sendo removidas em regiões até então distantes do fenômeno de expansão da fronteira agrícola.

Grandes desmatamentos e frentes de grilagem de terras públicas estão ocorrendo em Apuí, Lábrea, Boca do Acre, Novo Aripuanã e Rodovia do Estanho, no Amazonas, estado até então bastante preservado. Em Apuí, num trecho conhecido como ?180?, um único grileiro disse ao Greenpeace que vai ?ganhar US$ 1 milhão? vendendo terras na área para fazendeiros vindos do Mato Grosso.

Ataques - Em Lábrea e Boca do Acre, no sul do Amazonas, mais de 15 mil hectares ao longo do ?Ramal dos Baianos? foram desmatados entre fins do ano passado e primeiro semestre deste ano, antes que o Ibama chegasse à área. Fortes desmatamentos estão ocorrendo também na margem esquerda do Rio Amazonas, ao longo da estrada que sai de Oriximiná em direção a Prainha, passando por Óbidos, Alenquer e Monte Alegre, no Pará.

Lá, soja e madeira fazem a festa. O mesmo ocorre no entorno dos assentamentos do Incra Moju 1, 2 e 3, entre Santarém e Uruará, e no sudeste da chamada ?Terra do Meio?, localizada entre os rios Xingu e Tapajós. O ataque dos predatores à região se dá também pelo oeste, vindo de Novo Progresso, pólo madeireiro às margens da rodovia Cuiabá-Santarém (BR-163). A rodovia, que deverá ser asfaltada durante o atual governo, virou rota de migração de plantadores de soja e arroz financiados pela extração de madeira farta e de fácil ?legalização?.

Plantio - No mês de junho deste ano, a parte sul da rodovia, em Mato Grosso, concentrou a maioria dos focos de queimadas identificada pela Embrapa. Em Santarém, segundo maior porto de exportação de madeira do Pará, a multinacional Cargill inaugurou um porto graneleiro para escoar a soja.

Produtores do sul invadiram a cidade nos últimos seis meses e compram toda a terra disponível. A euforia da soja já está afetando os igarapés que formam o lago da turística localidade de Alter do Chão, segundo lideranças locais. Tudo isso sem qualquer zoneamento ou controle, ou mesmo estudos para identificação das reais potencialidades econômicas da região.

?Os números mostram claramente que o governo federal tem sido incapaz de deter o desmatamento na Amazônia?, afirma Adário. Segundo ele, é preciso uma mudança radical de concepção do modelo econômico adequado à região, que não pode ser deixado à mercê das forças de mercado, com sua visão predatória e imediatista. ?O governo federal não pode se eximir: tem de assumir o comando do processo, via indução, planejamento e controle, e não apenas assistir a festivais.?

Fuente: Caderno Atualidades, Brasil

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