Brasil, um dos poucos países do mundo que permite o uso do hormônio transgênico

Um estudo recente realizado nos Estados Unidos revelou que mulheres que consumiram produtos derivados de leite tiveram uma propensão cinco vezes maior a dar à luz a gêmeos do que as vegetarianas. A pesquisa, publicada em maio no The Journal of Reproductive Medicine*, sugere que o uso de hormônio transgênico para aumentar a produção de leite de vacas pode estar relacionado ao alto nível de nascimentos múltiplos

Car@s Amig@s,

Sabe-se que o hormônio de crescimento bovino (BGH, na sigla em inglês) aumenta o número de gêmeos em vacas leiteiras. Além disso, a taxa de gêmeos em humanos nos Estados Unidos, onde o BGH é usado, é duas vezes maior que na Inglaterra, que proibiu o hormônio. O produto foi desenvolvido pela Monsanto.

A somatotropina bovina afeta a reprodução por aumentar o fator de crescimento insulina símile-1 (IGF1, insulin-like growth factor-1), uma proteína do leite que estimula a ovulação e pode ajudar na sobrevivência de embriões em estágio inicial de formação. Um outro estudo mostrou que os níveis de IGF em vegetarianas era 13% menor do que nas mulheres que se alimentam de laticínios.

O Brasil é um dos poucos países do mundo que permite o uso do hormônio transgênico. Dois produtos comerciais são vendidos aqui: o Lactotropin, da Elanco, e o Boostin, da Schering-Plough. Nenhuma das empresas informa que o produto é transgênico. O máximo que dizem é que se trata de “Somatotropina bovina recombinante”. A Schering-Plough afirma que “O produto não requer período de carência para a carne e nem descarte do leite de animais tratados com o produto”. Já a Elanco, divisão agropecuária da Eli Lilly, afirma que os testes realizados concluíram que produto é usado “sem impacto na reprodução”.

A licença para comercialização do Lactotropin no Brasil venceu no último dia 28 de abril. O Ministério da Agricultua, Pecuária e Abastecimento (MAPA) informou, no entanto, que iria renovar automaticamente sua licença sem exigir novos estudos sobre a segurança do produto. O procedimento do MAPA só foi revisto após a publicação de uma matéria do jornal Correio Braziliense (25/04) denunciando a ilegalidade. O Ministério resolveu então atender ao memorando da sua própria Coordenação de Fiscalização de Produtos Veterinários (CPV), encaminhado à Câmara dos Deputados, informando no dia 6 de março que antes da renovação das duas licenças os casos seriam reavaliados para “atualizar as informações sobre segurança do uso do produto”, e uma nova análise seria feita pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). A licença para o Boostin vence em setembro.

Apesar da suspensão da licença e da necessidade de um parecer da CTNBio, onde o pedido da Elanco já tramita, a AS-PTA ligou esta semana para uma casa agropecuária do Espírito Santo que continua vendendo o produto. “R$ 489,33 a caixa com 25 ampolas”, informou o técnico agropecuário que atendeu à ligação. Quantas outras casas do ramo continuam a vender ilegalmente o produto?

A reportagem do Correio informou que, segundo o Ministério da Agricultura, no ano passado, produtores de leite brasileiros compraram 745 mil doses do hormônio. “Como a venda ocorre em diversas regiões do país e o leite originário de diferentes pecuaristas é misturado no processo de produção de grandes empresas, não há como saber quais lotes de leite provêm de vacas que receberam o medicamento”.

Assim como os outros transgênicos no mercado, a aprovação do hormônio da Monsanto é repleta de irregularidades, que incluem a manipulação de informações, influência política e perseguição de cientistas que apontam riscos no produto.

Em 1994, a administração Clinton, nos Estados Unidos, publicou um relatório afirmando que “não há evidências de que o hormônio apresente riscos aos humanos ou aos animais”. No mesmo ano, um grupo de pesquisadores ingleses revelou que durante três anos a Monsanto havia bloqueado a divulgação das evidências que eles recolheram mostrando que o BGH aumenta a susceptibilidade das vacas a infecções no úbere. Estes mesmos pesquisadores mostraram que os dados apresentados pela Monsanto à agência reguladora dos Estados Unidos haviam sido filtrados.

No Canadá, a Monsanto ofereceu fartos recursos para pesquisa aos funcionários da Agência de Saúde do país durante o processo de aprovação do produto, quando os cientistas da Agência queixaram-se pressionados e inibidos. Posteriormente, esses pesquisadores foram demitidos.

Devemos estar atentos à decisão que a CTNBio tomará em relação ao hormônio e cobrar do MAPA a fiscalização dos pontos de venda e a retirada do produto do mercado.

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* Steinman, G. Mechanisms of Twinning: VII. Effect of Diet and Heredity on the Human Twinning Rate. The Journal of Reproductive Medicine, May 2006, p. 405-410.

Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Número 307 - 14 de julho de 2006
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil

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