Cuba: A revolução está ficando verde por Peter Rosset
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A revolução está ficando verde
Por Peter Rosset
9-12-02
Da Revolução cubana em 1959 até o colapso das relações comerciais com o bloco socialista no final dos anos oitenta o desenvolvimento econômico cubano caracterizou-se pela rápida modernização, alto grau de equidade e bem estar social, e forte dependência externa. Se por um lado a maioria dos indicadores físicos de qualidade de vida atingiram marcas muito positivas, por outro Cuba dependia dos seus parceiros comerciais socialistas para obtenção de petróleo, equipamentos industriais, produtos industrializados, insumos agrícolas tais como pesticidas e fertilizantes, e alimentos - possivelmente até 57% do total de calorias consumidos pela população. O embargo econômico dos Estados Unidos fez com que o comércio se dirigisse ao bloco socialista, e os termos de troca favoráveis aí obtidos pelo açúcar cubano e outros produtos exportados fizeram com que se tornasse mais barato exportar açúcar e importar alimentos do que produzir alimentos suficientes no próprio país.
A agricultura cubana baseava-se em monocultura capital-intensiva em grande escala, em muitos aspectos mais semelhantes ao Vale Central da Califórnia do que ao típico minifúndio latino-americano. A importação de fertilizantes e pesticidas ultrapassava a marca dos 90% , o que dá uma idéia do grau de dependência característico deste estilo de agricultura, e da vulnerabilidade da economia da ilha às forças internacionais de mercado. Quando as relações comerciais com o bloco socialista entraram em colapso em 1990, as importações de pesticidas caíram em mais de 60%, as de fertilizantes em 77%, e a disponibilidade de petróleo para agricultura caiu pela metade. As importações de alimentos também caíram em mais de 50%. Assim, repentinamente, um sistema agrícola quase tão moderno e industrializado como a Califórnia deparou-se com um duplo desafio: a necessidade de dobrar a produção de alimentos e reduzir pela metade o uso de insumos; e ao mesmo tempo, a necessidade de manter a produção da cultura de exportação para não piorar ainda mais a terrível posição do país nas trocas internacionais. O consumo calórico e protéico da população começou a cair de forma alarmante, e apareceram os primeiros indícios de desnutrição em décadas. A segurança alimentar mostrou-se o calcanhar de Aquiles da revolução.
Hoje, Cuba passa por um processo que representa a maior experiência á realizada no mundo de convenção da agricultura convencional para agricultura orgânica ou semi-orgânica. Evidências empíricas obtidas nos Estados Unidos e em outros lugares demonstram que pode levar de três a cinco anos a partir do inicio do processo de convenção para que se atinjam os níveis de produtividade obtidos anteriormente. Isso acontece porque leva tempo para restaurar a fertilidade perdida e restabelecer o controle natural das populações de insetos e patógenos. No entanto, Cuba não tem três a cinco anos disponíveis - sua população precisa ser alimentada a curto prazo.
Porém, no resto do mundo, o modelo alternativo de agricultura existe na teoria mas na prática continua um sonho. Se o povo cubano ao longo das últimas décadas mostrou ter uma qualidade, essa qualidade é a audácia. Hoje, no meio da mais grave crise de sua história, os cubanos estão fazendo uma audaciosa tentativa de mudar as regras do jogo. Ainda, que seja impossível dizer se eles terão sucesso no final, só o que eles já conseguiram realizar, em condições de extrema adversidade, já é impressionante. Os autores citam "Nós guardamos as imagens das filhas e filhos dos componeses produzindo tecnologia de ponta literalmente no campo e fornecendo aos seus pais e vizinhos substitutos orgânicos para pesticidas tóxicos e fertilizantes químicos. Lembramos ainda o entusiasmo dos jovens cientistas agrícolas e a sua determinação de "realizar milagres com inteligência e suor". Podemos somente esperar que de fato consigam realizar milagres - não apenas para sua população esfomeada, mas para todos nós cujos países também estão enfrentando uma crise na agricultura.
O experimento cubano é a maior tentativa já realizada na história da humanidade, de conversão da agricultura sustentável para agricultura agroecológica. Assim, os autores finalizam "Devemos observá-lo atentamente, em busca das lições que poderemos aprender tanto com os sucessos como com os fracassos cubanos. E cabe a nós apoiar esse experimento que é potencialmente tão importante para nós".
Resumo de João Mangabeira da Rede Agroecologia
Fonte: Livro A Revolução Está ficando Verde, Editado pela AS-PTA - Maiores informações via gro.cpa.xa@atpsa
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