‘Dupla discriminação’: Mulheres negras ganham 53% menos que homens brancos, aponta Dieese

Idioma Portugués
País Brasil

Levantamento revela que elas enfrentam desigualdade no trabalho enquanto “sustentam base da economia brasileira”.

Um  boletim divulgado pelo  Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) nesta quarta-feira (19) revela que o rendimento médio das mulheres negras é 53% menor do que o dos homens brancos no Brasil, uma diferença que chega a R$ 30,8 mil por ano. A pesquisa, relacionada ao  Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quinta (20), mostra como racismo e desigualdade de gênero estruturam o mercado de trabalho.

Mesmo com mais escolaridade, “as diferenças de renda são ainda maiores”, destaca a economista Fátima Lage Guerra, do Dieese. Segundo o relatório, “mulheres negras com ensino superior ganhavam menos da metade que os homens brancos, isto é, R$ 58 mil a menos por ano.” O relatório também faz menção à  Marcha Nacional das Mulheres Negras, prevista para a próxima terça (25), em Brasília.

Em entrevista ao  Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a economista explica que o estudo nasce do lema da marcha: “Pelo bem viver, contra o racismo, o sexismo e as desigualdades”. Segundo ela, o mercado de trabalho é onde essa “dupla discriminação” aparece de forma mais evidente. “As condições de trabalho encontradas pelas mulheres negras são muito piores quando comparamos com os homens brancos”, observa.

A desigualdade aparece também no topo da pirâmide ocupacional. Enquanto um em cada 17 homens brancos ocupa cargos de direção, apenas uma em 46 mulheres negras chega a essas posições. Para Guerra, isso revela “uma estrutura extremamente hierarquizada, que estratifica as pessoas de acordo com cor e sexo”. “O teto de vidro para a mulher negra é muito difícil de ser quebrado”, completa.

A economista reforça ainda que essas mulheres chefiam 30% dos 24 milhões de lares brasileiros. “São as responsáveis principais pela economia de cuidado no Brasil, têm um papel fundamental em sustentar a base da economia brasileira, mas são muito desvalorizadas”, indica. A pesquisa mostra que elas também gastam 21 dias a mais por ano em trabalhos domésticos não remunerados.

Para reverter esse cenário, ela destaca a urgência de políticas públicas de cuidado e de compartilhamento das tarefas domésticas. “Não avançamos em criar políticas que permitam às mulheres conciliarem o trabalho doméstico não remunerado com as atividades produtivas”, critica.

Falar sobre o tema, afirma Guerra, também é parte da mudança. Ela acredita que “denunciar, mostrar esses dados, levar essa discussão nos espaços públicos” é o primeiro passo para enfrentar as desigualdades estruturais que atingem as mulheres negras no país.

Fonte: Brasil de Fato

Temas: Desigualdad, Feminismo y luchas de las Mujeres

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