Fracassam negociações da OMC para acabar com subsídios agrícolas, por WWI-UMA
As negociações entre os membros da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Cancún, para um novo pacto comercial fracassaram neste domingo devido à tática dos países ricos em deixar de lado o tema dos subsídios agrícolas
A agricultura, em particular os fortes subsídios aplicados pela União Européia (UE) e Estados Unidos, era o principal tema de discussão. Mas no último dia de reuniões, neste domingo, estes países insistiram em focar as negociações nas novas regras de comércio, sobretudo investimentos.
Fontes disseram que os representantes discutiram primeiro os chamados temas de Cingapura, relacionados às novas regras de investimento, no lugar da reforma agrícola, tema-chave para os países produtores agrícolas, como Argentina e Brasil.
- As negociações entraram em colapso e não há acordo - disse o representante do Quênia, George Ongwen.
O representante da Argentina, Martín Redrado, concordou:
- A conferência falhou. Não há acordo.
Para o representante da Argentina o fracasso significa que a rodada de negociações em Doha, no Qatar, não terá efeito dentro de um pacto global dos participantes até o final de 2004.
Os representantes dos Estados Unidos também disseram que já não acreditam mais ser possível concluir um acordo global sobre a eliminação das barreiras ao comércio internacional até o fim de 2004.
- É difícil para mim acreditar, na atual posição em que nos encontramos, que seremos capazes de terminar a tempo - declarou o negociador americano Robert Zoellick, em entrevista coletiva depois que as negociações em Cancún foram consideradas fracassadas. (O Globo)
Ministros convocam nova reunião da OMC para dezembro
Com o fracasso das negociações comerciais em Cancún, ministros presentes na conferência da OMC (Organização Mundial de Comércio) decidiram convocar nova reunião até o dia 15 de dezembro de 2003.
De acordo com comunicado, "foram realizados progressos consideráveis" em Cancún. Informou ainda que a nova reunião permitirá fechar o ciclo de Doha "de maneira positiva e nos prazos", no final de 2004.
A Conferência Ministerial da OMC terminou hoje em Cancún com um completo fracasso nas negociações comerciais. A conferência tinha como objetivo definir um marco nas negociações em torno da liberalização comercial, iniciadas em novembro de 2001 em Doha (Qatar).
O fracasso das negociações acontece após o impasse entre países pobres e ricos em torno dos subsídios agrícolas. Rascunho da declaração de Cancún, divulgado ontem, propunha a diminuição dos subsídios agrícolas, mas apenas para uma lista de alguns produtos.
A proposta foi combatida pelo G-21, o grupo de países em desenvolvimento liderado pelo Brasil, Índia e China, que reivindicavam um cronograma para o fim completo desses subsídios.
A agricultura é uma questão-chave por representar a fonte de sustento de bilhões de pessoas nos países subdesenvolvidos, que exigem que os Estados Unidos e a União Européia cortem os altíssimos subsídios pagos a seus produtores.
Os países mais pobres argumentam que os subsídios limitam o acesso dos menos favorecidos aos mercados mundiais e ajudam a perpetuar a pobreza. Os países ricos retrucam que já tomaram medidas substanciais para reduzir os subsídios.(France Presse)
Ativistas antiglobalização declaram vitória em Cancún
Ativistas antiglobalização celebraram o impasse na rodada de negociações no México no domingo, embora eles tenham fracassado em criar o tipo de mobilização verificado no encontro de Seattle, em 1999.Manifestantes empunhavam cartazes dizendo "Nós vencemos" dentro do centro de convenções de no balneário mexicano, onde representantes de 146 países membros da Organização Mundial do Comércio se reuniram durante os cinco dias que durou a rodada de negociações.
Grupos humanitários já previam que o surgimento nas negociações de um novo grupo de países pobres, porém de decisões firmes, liderados pelo Brasil e outros significaria que os países desenvolvidos teriam que passar a levar os mais pobres mais a sério. Apesar de lamentar o fracasso das negociações em Cancun, Phil Bloomer, da ONG Oxfam reconheceu nesta rodada um fato decisivo para o comércio internacional:
- As negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) nunca mais serão as mesmas. No papel, este encontro fracassou, mas o novo poder dos países em desenvolvimento, apoiado por campanhas pelo mundo afora fizeram de Cancun um marco - disse Phil Bloomer, da agência de desenvolvimento Oxfam.
Cancún teve uma história bastante diferente do caótico encontro em Seattle, há quatro anos, quando dias de violentos distúrbios nas ruas puseram os movimentos antiglobalização no mapa. Aquela rodada de negociações acabou sendo lembrada como um impasse coroado pelo rancor do antagonismo entre ricos e pobres.
- O ponto de Seattle foi de evitar que a OMC avançasse. Eu sinto que o que aconteceu aqui terá o mesmo efeito novamente - disse o ambientalista radicado nos Estados Unidos, Dave Meddel. (Reuters)
OMC: EUA responsabilizam 'países que dizem não' por impasse em Cancún
Os Estados Unidos responsabilizaram outros países pela falta de consenso na rodada de negociações neste domingo, dizendo que muitos participantes não estavam dispostos a fazer concessões. O representante comercial americano, Robert Zoellick, disse por meio de uma declaração que os Estados Unidos se mantêm favoráveis à continuação das negociações em torno dos produtos agrícolas e investimentos internacionais, temas que estiveram por trás do fracasso do encontro da OMC no balneário mexicano.
Zoellick disse que, entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, houve os que sempre se manifestavam favoráveis às negociações e os que estavam sempre na ala dos não-favoráveis.
- A retórica do "não" superou os esforços concentrados do "sim" - acrescentou. As negociações entre os membros da OMC em Cancún foram por água abaixo depois que os países em desenvolvimento se negaram a concordar com as solicitações européia e japonesa de que deveriam ser lançadas negociações formais sobre uma nova e complexa regulamentação a respeito de investimentos, concorrência e compras governamentais. Os temas são conhecidos como "temas de Cingapura" porque surgiram na rodada da OMC realizada naquele país, em 1997.
- Não avançamos por causa dos temas de Cingapura. Mas a maior lição de Cancún foi que um compromisso sério entre 148 países requer um esforço para que os participantes se concentrem nos trabalhos - não em retórica - para que se alcance o equilíbrio entre ambição e flexibilidade - disse Zoellick.
Os ministros canadenses do Comércio, Pierre Pettigrew, e da Agricultura, Lyle Vanclief, também demonstraram seu desapontamento com o fracasso das negociações, iniciadas em novembro de 2001, em Doha, no Qatar.
"Continuaremos a trabalhar para retomar a agenda mirando sempre nosso objetivo - um sistema de comércio global equilibrado e igualitário capaz de beneficiar tanto a economia canadense como a dos países em desenvolvimento", conforme declarado em documento assinado pelos dois em conjunto. (O Globo)
WWI-Worldwatch Institute / UMA-Universidade Livre da Mata Atlântica
http://www.wwiuma.org.br