Mulheres da Via Campesina em Jornada Nacional de Luta por todo o Brasil
"As mulheres da Via Campesina lutam por um projeto que priorize a produção de alimentos para o mercado interno e que não destrua o meio ambiente. Reivindicam a viabilização de políticas públicas que garantam a soberania alimentar e energética do povo em vez do financiamento dos grandes projetos do capital internacional, da especulação de terras e do agronegócio..."
Nesta segunda-feira (09/03), mulheres da Via Campesina iniciam uma jornada de lutas, em torno do Dia Internacional da Mulher. Foram realizados protestos, hoje, em Brasília, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná (leia o manifesto da jornada no final desta mensagem).
Com o lema “Mulheres Camponesas em Luta Contra o Agronegócio, pela Reforma Agrária e Soberania Alimentar”, as mulheres da Via Campesina lutam por um projeto que priorize a produção de alimentos para o mercado interno e que não destrua o meio ambiente. Para isso, reivindicam a viabilização de políticas públicas que garantam a soberania alimentar e energética do povo brasileiro em vez do financiamento dos grandes projetos do capital internacional, da especulação de terras e do agronegócio.
Como alternativas ao modelo de desenvolvimento que é aplicado hoje no Brasil, a Via Campesina propõe a agroecologia como projeto produtivo de alimentos saudáveis para o mercado interno, o direito à terra através da Reforma Agrária, os direitos territoriais de povos indígenas e populações quilombolas, o direito ao trabalho em condições dignas e bem remunerado, o direito à previdência social, à socialização do trabalho reprodutivo, dentre outros.
Segue abaixo um balanço da Jornada Nacional nos estados.
ESPÍRITO SANTO
Cerca de 1300 mulheres da Via Campesina do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro ocuparam o Portocel, porto de exportações da empresa Aracruz Celulose, localizado em Barra do Riacho, município de Aracruz, no Espírito Santo. A mobilização faz parte das atividades de luta do 8 de Março, Dia Internacional de Luta das Mulheres.
O objetivo da ação é denunciar a concentração de terras da empresa, que são usadas para plantio de eucalipto para exportação, prejudicando a soberania alimentar; e o repasse de recursos públicos do Estado para essa multinacional, o que tem aumentado ainda mais com crise mundial. A empresa se apropria de recursos públicos, mas nao gera nem garante empregos, destrói o meio ambiente e não contribui para o desenvolvimento nacional. Para salvar a Aracruz da falência, o governo repassou, via BNDES – com recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) - R$ 2,4 bilhões para o grupo Votorantim comprar ações da Aracruz. Mesmo com os recursos de amparo ao trabalhador, a empresa não garante emprego, e já demitiu mais de 1500 trabalhadores terceirizados. O caso é uma demonstração que os interesses das empresas privadas se sobrepõem aos interesses do povo brasileiro.
Informações: Joana: (11) 9700-0323
BRASÍLIA
Cerca de 800 mulheres da Via Campesina ocupam o prédio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento,em Brasília, onde realizam um ato pacífico. As trabalhadoras rurais denunciam o modelo de desenvolvimento imposto pelo governo, empresas transnacionais e bancos para o campo brasileiro, e cobram a implementação de um modelo agrícola baseado na pequena agricultura, através da realização da reforma agrária, e uma política econômica voltada para a geração de empregos para a população.
Informações: (61)8464-6176 – Maria Mello
SÃO PAULO
Cerca de 600 trabalhadoras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra realizaram nesta segunda-feira (09) a ocupação de uma área da Cosan, no município de Barra Bonita, na região de Jaú, a 280 km da capital. O grupo Cosan explora uma área duas vezes maior que o total de hectares destinados para a Reforma Agrária no Estado de São Paulo: 605 mil hectares pelo grupo, contra apenas 300 mil para as 15 mil famílias em assentamentos estaduais e federais.
A unidade da Barra, local da manifestação, é a maior usina de açúcar e etanol do mundo em capacidade de moagem de cana, ou seja, é um símbolo do setor sucroalcooleiro. Segundo estudos do BNDES (2003), esta usina explora mais de 70 mil hectares de terra, dos quais cerca de 18 mil hectares são de propriedade da própria empresa, e os demais são arrendados, abarcando seis municípios da região.
Informações: Eduardo/Danilo: (11) 8276-6393
RIO GRANDE DO SUL
Cerca de 700 mulheres organizadas pela Via Campesina ocupam neste momento a Fazenda Ana Paula, de propriedade da Votorantim Celulose e Papel. A ocupação foi iniciada com o corte de eucalitpo na área.
Depois de especular contra a moeda brasileira e ter prejuízos com a crise financeira, a VCP recebeu R$ 6,6 bilhões do governo brasileiro para adquirir a Aracruz Celulose, através da compra de metade da carteira do Banco Votorantim e de um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –BNDES. O custo da compra foi de R$5,6 bilhões.
A VCP havia prometido gerar 30 mil empregos no estado e mesmo recebendo recursos e isenções fiscais dos governos federal, estadual e de municípios, a Aracruz causou a demissão de 1,2 mil trabalhadores em Guaíba, entre trabalhadores temporários e sistemistas, e a VCP, outros 2 mil trabalhadores na metade sul. O agronegócio foi o segundo setor que mais demitiu com a crise financeira. Apenas em dezembro, o agronegócio demitiu 134 mil pessoas em todo país.
PARANÁ
Cerca de 1.000 trabalhadoras da Via Campesina fazem uma marcha pelo centro de Porecatu, no Norte do Paraná. A marcha faz parte da Jornada Nacional de Mulheres da Via Campesina, saiu do Centro Comunitário da Prefeitura até a praça central, onde será realizada uma celebração com a partilha de alimentos da Reforma Agrária.
Informações : Solange - (41) 9900 4971 / Jakeline - (41) 9676 5239
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MULHERES CAMPONESAS NA LUTA CONTRA O AGRONEGÓCIO, POR REFORMA AGRÁRIA E SOBERANIA ALIMENTAR
Nós mulheres, camponesas, ribeirinhas, extrativistas, indígenas, quilombolas e sem terra, queremos denunciar com nossas ações políticas a extrema gravidade da situação dos trabalhadores rurais no Brasil. Não nos subordinaremos a este modelo capitalista e patriarcal de sociedade, concentrador de poder e de riquezas. Não queremos o projeto de agricultura do agronegócio, hidronegócio e das empresas transnacionais no Brasil.
Nos mobilizamos para denunciar a crise política, econômica, social e ambiental, criada pelas elites que controlam o Estado: capital financeiro internacional e transnacionais. Não aceitamos pagar a conta da crise, com a super-exploracão de nosso trabalho, baixos salários, aumento da jornada de trabalho e com o avanço da exploração sobre os recursos naturais. Por isso, DENUNCIAMOS:
O AGRO E O HIDRO NEGÓCIO SÃO INSUSTENTÁVEIS: os monocultivos, com destaque para a cana, soja e eucalipto causam um forte desequilíbrio ambiental, sérios problemas sociais, gerando graves conseqüências para a humanidade, através do uso intensivo de venenos. É um modelo que se apropria e domina a água, a terra, as fontes de energia, os minérios, as sementes e toda biodiversidade. Exerce controle das sementes, através dos transgênicos, que provoca o aumento de doenças, especialmente em mulheres e crianças. Avança sobre os recursos naturais, com a ganância de aumentar seus lucros sobre as florestas, na Amazônia e no que resta do Cerrado, da mata atlântica, do bioma pampa e do semi-árido nordestino.
SUPER-EXPLORAÇÃO DO TRABALHO: os grandes lucros deste modelo são obtidos através de baixos salários, precarização, ameaça constante de desemprego e condições semelhantes de trabalho escravo. É esta super-exploração, do trabalho que permite que a mercadoria fruto deste modelo, seja uma das mais baratas e competitivas do mundo.
FINANCIAMENTO DO ESTADO: este modelo é beneficiado através de investimento público que tira dos pobres em forma de impostos e passa os recursos para os bancos e empresas. O governo brasileiro recolhe da sociedade todos os anos, cerca de 150 bilhões de reais para transferir aos bancos na forma de pagamento de uma divida, que o povo não fez e nunca foi consultado. Os donos desses títulos não são mais que 20 mil ricos, entre donos de bancos, especuladores nacionais e internacionais. Sem esses recursos, o governo não consegue investir em educação, emprego, saúde, direitos previdenciários, habitação e reforma agrária. Este repasse se dá principalmente através do FAT e do BNDES - órgãos governamentais. É o modelo mais rentável para os capitalistas, e o mais dependente dos investimentos públicos. Por gerar divisas em dólar, o governo e o Estado lhe dão total amparo. Em especial, em linhas de crédito: o agronegócio recebe mais de 65 bilhões de reais por ano dos bancos públicos. E com isenção dos impostos de exportação. Exportar apenas matéria prima não desenvolve o país, nem distribui renda a todos e todas.
ALIANÇA que afeta a soberania alimentar e o controle da agricultura brasileira: Há uma aliança entre os grandes proprietários de terra com as empresas transnacionais que controlam o fornecimento dos insumos industriais -adubos, fertilizantes, venenos e máquinas- controlam o preço e o mercado de cada produto. O Brasil continua priorizando a exportação de matérias primas, sem valor agregado, vendendo à preços baixos, etransferindo parte de nossas riquezas naturais, inclusas no produto.
A CRIMINALIZAÇÃO DA LUTA: Nos últimos tempos, o Estado tem utilizado todo aparato policial, o poder judiciário e a mídia para defender as empresas, o agronegócio e a propriedade privada e criminalizar as lutas sociais.
Reafirmamos a luta como única saída para as transformações sociais! E temos direito de lutar!
Nos mobilizamos para defender, a agroecologia, a biodiversidade, a agricultura camponesa cooperada, a produção de alimentos saudáveis, a Reforma Agrária, os direitos previdenciários, a saúde e educação gratuita e de qualidade para todos. Para defender a terra, a água, as sementes, a energia e o petróleo como bens da natureza a serviço dos seres humanos.
Rompemos o silêncio para resgatar a cultura e o conhecimento camponês, resgatar o nosso Brasil. E para isso, convocamos todo o povo brasileiro a ir á luta. E nos unir para construir um novo projeto de desenvolvimento que beneficie o povo brasileiro e não as empresas e os bancos.
Seguiremos lutando e organizando as mulheres, os homens, a juventude trabalhadora, as crianças para defender os nossos direitos de viver no Brasil justo, igualitário e soberano
VIVA 08 DE MARÇO: DIA INTERNACIONAL DE LUTA DAS MULHERES TRABALHADORAS!
VIA CAMPESINA BRASIL e FETRAF - MARÇO 2009