Brasil: O grão clandestino
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Revista Veja, Edição 1752, Brasil, 22-5-02
 Brasil: O grão clandestino
 Por Diogo Schelp
O Brasil é o único entre os três maiores exportadores de soja que proíbe a variedade geneticamente modificada. Em tese, isso daria ao produto nacional uma vantagem competitiva em relação aos concorrentes, os Estados Unidos e a Argentina, pois muitos europeus e asiáticos preferem alimentos não-transgênicos. Na prática, só atrapalha, pois a proibição, resultado de uma liminar concedida a ambientalistas pela Justiça Federal, não é respeitada.
 Estima-se que cerca de 15% da área plantada no Brasil seja da variedade transgênica, o que representa mais de 2 milhões de hectares. Pelo menos 65% do plantio de soja geneticamente modificada está no Rio Grande do Sul.
 Outros 15% estão distribuídos entre Santa Catarina e Paraná, mais 15% ficariam no Centro-Oeste e o resto estaria pulverizado nos outros Estados.
 Os produtores gaúchos começaram a adquirir sementes de soja transgênica contrabandeadas da Argentina há cinco anos. Fizeram isso porque esse grão permite economia no uso de herbicidas e tem considerável vantagem em termos de produtividade.
 O governo estadual gaúcho iniciou três anos atrás uma campanha para tornar o Estado livre de transgênicos. Mas uma lei aprovada pela Assembléia Legislativa impediu, durante quase todo o ano de 2000, que a  Secretaria de Agricultura fiscalizasse as plantações. Como conseqüência, na safra de 2001, 30% do que foi colhido de soja gaúcha era transgênico. "Para este ano, a colheita pode chegar a 45% de soja modificada", diz Nereo Egberto Starlick, presidente da associação dos produtores de sementes do Rio Grande do Sul. A lei prevê de um a três anos de prisão para quem planta e vende transgênicos, mas os produtores correm pouco risco real. Os procuradores da República - encarregados de levar esses casos à Justiça - preferem restringir-se a pedir a apreensão da soja.
 O fato de o Brasil ter grande quantidade de soja transgênica clandestina é pior para a imagem do produto nacional que assumir oficialmente o plantio. Como a produção modificada não é vendida separada do grão convencional, é como se toda a soja produzida no Rio Grande do Sul fosse transgênica. Por enquanto, os agricultores gaúchos não estão perdendo dinheiro com essa situação. É verdade que alguns compradores externos preferem buscar o produto no Centro-Oeste, onde a incidência de transgênicos é menor. Mas ninguém paga mais por isso. O sojicultor só consegue preço melhor quando a soja tem certificado de não-transgênica concedido por algum laboratório reconhecido internacionalmente. Apenas 20% da soja exportada possui certificado de origem não-transgênica.
 
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