Brasil: cresce reação aos transgênicos, por Nelson Breve
Pesquisadores, parlamentares e movimentos sociais se mobilizam para derrubar medida
BRASÍLIA - A guerra dos transgênicos não terminou com a edição da medida provisória que libera o plantio e a venda da soja geneticamente modificada. A reação contra a MP começou ontem com um seminário promovido pela Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias da Câmara. O debate se transformou em ato pela derrubada da MP por falta de quem a defendesse. Pesquisadores franceses criticaram a liberação do plantio, integrantes do governo mostraram-se desconfortáveis com o fato consumado, parlamentares governistas condenaram o governo e declararam voto contra a MP, representantes de movimentos populares ameaçaram aumentar a pressão.
Hoje, a Via Campesina, mobilização de pequenos agricultores e ecologistas que estão acampados em Brasília há quase um mês na tentativa de impedir a liberação do plantio da soja transgênica, deve cercar novamente o Ministério da Agricultura. Uma reunião de emergência foi convocada pelo ministro Roberto Rodrigues para tentar resolver mais um problema provocado pelo plantio ilegal da soja transgência no Rio Grande do Sul.
O objetivo é liberar o agrotóxico à base de glifosato produzido pela Monsanto para aplicação após o florescimento da soja. O glifosato só está autorizado para aplicação antes do florescimento. A soja transgênica depende do agrotóxico para ter produtividade e a utilização ilegal contraria a Lei dos Defensivos Agrícolas. Sem a liberação, a MP é inócua.
- No mundo inteiro, os cientistas favoráveis aos transgênicos fogem do debate - criticou o cientista francês Jacques Testar, que já fez experiências genéticas e hoje condena os transgênicos.
Ele ainda aproveitou para ironizar o fato de o representante da Monsanto, Rodrigo Almeida, não ter ficado para o debate.
- O representante da Monsanto me ouviu e não disse nada. Devo ter razão.
A Monsanto informou que o atraso na programação impediu que Almeida participasse do grupo de discussão. A empresa foi muito atacada. A principal crítica é a recusa em fazer o Estudo de Impacto Ambiental requerido pelo Ministério do Meio Ambiente.
A alegação da Monsanto é que a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) já autorizou a liberação. Há cinco anos a empresa briga na Justiça. Nesse período, a soja transgência entrou no país de forma clandestina.
A decisão da CTNBio também está sendo contestada na Justiça. O deputado Edson Duarte (PV-BA) pede a anulação da reunião que autorizou o plantio de transgênicos. Diz que a decisão foi tomada sem base sustentável e com quórum insuficiente. Acrescenta que havia conflito de interesses. O então presidente da CTNBio, Luiz Antonio Barreto de Castro, teria requisitado patentes de trasngênicos nos EUA.
Representante do Ministério do Meio Ambiente na CTNBio, o agrônomo Rubens Nodari, afirmou que o conflito de interesses continua. Ele questiona a forma de indicação dos componentes, dizendo que as decisões do colegiado não são confiáveis.
- Estão usando a comunidade acadêmica do mundo inteiro para legitimar o desconhecido. Estou lá, mas, como cidadão, não confio.
O senador João Capiberibe (PSB-AP) está recolhendo assinaturas para uma CPI no Congresso sobre o plantio ilegal de soja transgênica.
- A sociedade brasileira está sendo enganada. Tudo que está acontecendo parece conspiração - afirma.