Brasil: governador de Mato Grosso não sente culpa por plantar soja onde havia floresta, por Sandra Sato e Fabíola Salvador

Maggi diz que obedece à lei e que foi mal interpretado pelo ?NYT?

BRASÍLIA ? O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), se viu ontem em posição embaraçosa com a reprodução das declarações que deu ao jornal americano The New York Times (NYT), publicada ontem pelo Estado, defendendo o avanço do plantio de soja na Amazônia Legal, justamente no dia em que tinha audiências no Ministério do Meio Ambiente e no Banco do Brasil. Ele garantiu que foi mal interpretado, mas admitiu que não sente culpa pela conversão de áreas de floresta em plantação de soja. ?Sou um cidadão brasileiro, um governador que precisa defender o emprego e a renda neste País?, afirmou após encontro com a ministra Marina Silva para discutir projeto de construção de uma ferrovia no Pantanal.

O NYT atribuiu a Maggi esta afirmação: ?Para mim, um aumento de 40% do desmatamento não significa nada e não sinto a menor culpa pelo que estamos fazendo aqui?. O governador explicou que o porcentual se refere ao aumento de corte da floresta em 2002 em relação a 2001. ?Se fosse falar em 40% da Amazônia como um todo, seria loucura.? Segundo ele, ?só 12,3% do território da Amazônia foi desmatado? até agora e a agricultura ocupa 1,48% desta área, sendo 0,9% por soja.

Um dos maiores plantadores de soja do País, Maggi não esconde os planos de ampliar a fronteira agrícola. ?Milhares de produtores agrícolas querem ampliar suas áreas.? Mas assegura que obedecerá ao Código Florestal. Na Amazônia Legal, pode-se desmatar 20% das propriedades em áreas de floresta, e até 65% em áreas de cerrado.

Maggi interpretou a reportagem do NYT como reflexo da concorrência entre os produtores americanos e brasileiros de soja. ?Eles (americanos) têm de usar desses recursos para frear a produção do Brasil, que já é o maior exportador mundial de soja e será o maior produtor. Essa liderança incomoda os EUA.?

Para Marina Silva, que integra grupo interministerial que prepara medidas de combate ao desmatamento, a soja é um perigo para a Amazônia, por ser uma ?atividade altamente capitalizada?. ?Não há espaço na Amazônia para atividades intensiva de monocultura?, afirmou Marina. Para ela, a expansão de atividade agrícola deve ocorrer em áreas já desmatadas e abandonadas. Em Mato Grosso, disse, existem de 12 milhões a 15 milhões de hectares abandonados, e seria possível ?duplicar a produção de grãos sem derrubar nenhuma árvore?.

Agrolink, Internet, 18-9-03

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