Brasil: liberar transgênico foi burrice, diz Stedile
O líder do MST elogiou o Paraná e Santa Catarina por criarem áreas livres de transgênicos e vão negociar soja em melhores condições
Natal - Um dos principais coordenadores nacionais do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o economista João Pedro Stedile, disse ontem em Natal que o governo agiu com "ignorância"" e "burrice"" no episódio de liberação do cultivo de soja transgênica para a próxima safra.
"Ignorância porque eles não levaram em conta a opinião de dezenas de cientistas da própria Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), alertando o governo de que a questão dos transgênicos é muito perigosa."
"E burrice porque o Palácio do Planalto simplesmente caiu na cantilena (ladainha) do governador (Germano) Rigotto (PMDB) e de meia dúzia de fazendeiros irresponsáveis do Rio Grande do Sul que foram lá, mentiram para eles, dizendo que não tinham semente convencional, e o próprio Lula caiu nessa. Ele (o presidente) disse num programa de rádio que só aceitou editar a medida provisória porque não tinha semente convencional. Isso é uma piada no Rio Grande do Sul."
Procurado por meio de sua assessoria, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, não comentou as declarações. A reportagem não conseguiu encontrar o ministro José Dirceu (Casa Civil).
Medida provisória liberou o plantio de soja geneticamente modificada para a próxima safra, que começa a ser plantada neste mês, com o uso de sementes guardadas pelos produtores e cuja origem seja legal.
Ainda de acordo com o líder do MST, "os governos do Paraná e de Santa Catarina devem estar felizes, pois criaram áreas livres de transgênicos e vão disputar em melhores condições a venda de toda a sua soja para a China".
As declarações foram dadas no encerramento do 2º Fórum Social Potiguar, no contexto em que Stedile atacou o ingresso do Brasil na Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Na sua opinião, o bloco econômico, que está em fase de discussões sobre sua implantação, representa um instrumento de dominação econômica dos EUA.
Reforma agrária
A respeito do crescimento no número de entidades representativas de fazendeiros, que têm buscado ajuda por se declararem temerosos em relação à atual situação no campo, Stedile buscou minimizar o fato.
"Essas novas siglas que têm aparecido são inexpressivas e não representam nenhum conjunto de fazendeiros do Brasil. São apenas expressões de alguns grupos radicais que querem usar a violência para barrar a reforma agrária.""
Agrolink, Internet, 6-10-03