Greenpeace denuncia invasão da Monsanto que força Mexico a legalizar transgênicos
Ativistas do Greenpeace bloquearam a passagem de um trem de carga que transportava milho norte-americano, na fronteira do México com os EUA, como resposta às recentes evidências de que os EUA estão enviando grãos transgênicos ao país, desrespeitando acordos internacionais, e ameaçando a biodiversidade e a saúde da população mexicana
Ativistas se dependuraram no eixo dos trilhos do trem sob a ponte do Rio Grande, que faz fronteira com os EUA, enquanto representantes do Greenpeace negociavam com autoridades governamentais mexicanas a proibição da importação de milho transgênico norte-americano para o México. Análises científicas feitas por um laboratório americano independente demonstraram que quase um terço das amostras de milho provenientes dos EUA coletadas no México contém variedades transgênicas da gigante de biotecnologia Monsanto, de acordo com nota emitida hoje (18) pelo Greenpeace no Brasil. O Protocolo de Cartagena, tratado internacional acordado em janeiro de 2000, estabelece claramente que os países precisam agir, para prevenir os efeitos adversos das plantações geneticamente modificadas sobre a conservação e o uso sustentável da biodiversidade. "Os mexicanos estão sendo forçados a engolir a destruição da nossa fonte de alimento número um, assim como da saúde e do ambiente em que vivem pessoas que dependem dela. Isso porque os governos ao redor do mundo, ao não se manifestarem, permitem que os EUA os pressionem em favor dos interesses de suas empresas de biotecnologia e de seus próprios interesses comerciais", disse a coordenadora da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace México, Liza Covantes. Nos EUA, a Monsanto não pode cultivar sua variedade geneticamente modificada de algodão no sul da Flórida, devido à preocupação de que ela pode contaminar outras espécies. Porém, os EUA e a multinacional seguem depositando seu milho transgênico no México, que é o centro da origem da espécie, que tem centenas de variedades selvagens. O milho é hoje um dos três mais importantes produtos cultivados no mundo. Pesquisas científicas recentes realizadas nos EUA descobriram que genes de safras transgênicas poderiam rapidamente dominar aquelas presentes em seus parentes selvagens. Existe rejeição do consumidor e dúvidas na comunidade científica sobre os impactos dos transgênicos sobre o meio ambiente e a saúde humana e animal. Ao mesmo tempo, há fortes interesses comerciais. A União Européia aprovou recentemente normas mais rígidas para a aprovação comercial de organismos geneticamente modificados. No Brasil existem posicionamentos divergentes entre os Ministérios sobre o tema. Até o momento, não houve uma política clara do governo sobre a contaminação existente no país. "Será que o presidente defenderá o meio ambiente e a saúde da população brasileira, ou simplesmente cederá aos interesses econômicos da Monsanto?", questiona Mariana Paoli, coordenadora da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace Brasil. Em poucos dias o governo deverá enviar um novo Projeto de Lei (PL) ao Congresso sobre a legislação de biossegurança no país. O Greenpeace espera que este PL seja discutido com a sociedade antes que seja apresentado ao Legislativo, a fim de garantir a realização de um debate amplo e aberto com a sociedade a respeito do assunto. Os governos ao redor do mundo estão permitindo que as grandes empresas atuem sob as regras comerciais da Organização Mundial do Comércio (OMC), e forcem a entrada de safras transgênicas (como o milho geneticamente modificado) em países pequenos - que são incapazes de proteger a saúde de sua população e seu meio ambiente, a não ser por meio de acordos internacionais. Os EUA já utilizaram regras da OMC para obrigar países como o Sri Lanka e a Bolívia a aceitar alimentos transgênicos, e atualmente quer forçar a Europa a aceitar os produtos transgênicos de suas multinacionais. No 5º encontro ministerial da OMC, que será realizado no México em setembro, o país anfitrião e outras nações devem apoiar os tratados já existentes, para garantir que o Protocolo de Biosegurança prevaleça sobre os interesses corporativos. O México produz cerca de 18 milhões de toneladas de milho por ano. A exportação de milho americano para o país vem aumentando ano a ano, chegando à 5,3 milhões de toneladas em 2002, segundo o USDA. (Veja também www.greenpeace.org.br, www.fas.usda.gov e www.mma.gov.br, www.camara.gov.br e www.idec.org.br).
Vía Ecológica, Internet, 18-8-03