Na Amazônia brasileira, os madeireiros invadem as terras dos índios Awá-Guajá
De forma geral, o desmatamento da Amazônia vem perdendo fôlego. Em uma análise detalhada, a história é outra. Os progressos no combate ao desflorestamento não são homogêneos. Portanto, alguns pequenos grupos humanos isolados não estão sentindo as melhorias. Pelo contrário
A reportagem é de Jean Pierre Langellier, publicada pelo jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 17-02-2011.
É o caso dos Awá-Guajá, uma das duas últimas tribos de caçadores-coletores nômades do Brasil. Cerca de 350 Awá-Guajá vivem no Estado do Maranhão, no leste da Amazônia, em um “território indígena” de 117 mil hectares, delimitado em 2008. Eles se dividem entre quatro comunidades e dependem inteiramente da floresta para sobreviver. Alguns grupos familiares não mantêm nenhuma relação com o mundo exterior.
A situação dos Awá-Guajá é alvo de um relatório alarmante que acaba de ser publicado pela Funai – o órgão público brasileiro responsável pela proteção dos indígenas. De acordo com esse documento, elaborado a partir dos sistemas de observação por satélite, o espaço florestal dos Awá-Guajá não para de diminuir. Mais de 31% de seu território há havia sido desmatado em 2009. Os números parciais para 2010 atestam que o desflorestamento continua.
A Funai joga a culpa pelo desmatamento sobre os responsáveis de sempre, totalmente ilegais: madeireiros, criadores de gado, exploradores de pequenas minas, garimpeiros. Em 2009 ela registrou no território dos Awá-Guajá dezenas de incêndios, voluntários em sua grande maioria, destinados a “limpar” os detritos da floresta para formação de pastos ou cultivo de plantações.
“Tragédia”
A Funai ressalta que quase sempre é impossível identificar os responsáveis por esses “crimes ambientais”, por falta de um verdadeiro cadastro. Daí a urgência em se estabelecer registros fundiários precisos. O órgão de proteção dos índios pede por um reforço da vigilância, pela saída dos não-indígenas, “verdadeira ameaça para os recursos naturais”, e por uma melhor coordenação da repressão entre o exército, as diversas polícias e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
A ONG internacional Survival, que chama a atenção para as populações indígenas em risco, cita o depoimento de um Awá-Guajá, Pire’i Ma’a: “Os madeireiros estão destruindo nosso território. Sua presença me revolta. Não há mais animais para caçar. Meus filhos estão passando fome”.
“Três acampamentos ilegais de madeireiros, criadores de gado e caçadores estão instalados em território Awá-Guajá”, lembra a Survival. Em junho de 2009, um juiz federal ordenou que todos os “invasores” deixassem essa região em seis meses. Uma decisão por ora suspensa, em razão de um recurso judicial.
A Survival pede ao poder público brasileiro que aplique imediatamente o veredicto do juiz. Para Stephen Corry, diretor da ONG, está acontecendo “uma verdadeira tragédia”, por causa da inércia das autoridades.
Como todos os grupos indígenas sempre viveram isolados, os Awá-Guajá são particularmente vulneráveis às doenças mais comuns, como a gripe ou o sarampo, contra os quais seu sistema de defesa imunológico é ineficaz.