ONG diz que consumidor influencia empresas
O número de empresas que deixaram de usar componentes transgênicos em seus produtos aumentou de novembro de 2003 para abril de 2004
É o que constata a quarta edição do Guia do Consumidor ? Lista de Produtos Com ou Sem Transgênicos, lançada ontem (13-04) pelo Greenpeace, a bordo do navio Arctic Sunrise, em Porto Alegre. Na publicação anterior, no final de 2003, a organização não- governamental relacionava 32 empresas (39% do total de 80) que ofereciam garantias de que seus alimentos não continham transgênicos. Agora elas são 48 (44% do total de 108).
Segundo os ativistas que apresentaram a cartilha e depois foram distribuí-la a consumidores no Mercado Público da capital gaúcha, migraram da lista vermelha (com transgênicos) para a verde (sem transgênicos) indústrias como a Nestlé, a Kraft, a Unilever e a Perdigão. "A pressão do consumidor está fazendo com que empresas que não tinham essa preocupação passem a se comprometer a não utilizar os transgênicos em sua produção", acredita Gabriela Couto, ativista do Greenpeace.
Relação é feita desde 2002
As duas listas da cartilha do Greenpaece começaram a ser elaboradas em 2002 e, desde então, já foram parar nas mãos de 270 mil pessoas, em cópias impressas, e foram acessadas por 600 mil visitantes no site da ONG na internet (http://www.greenpeace.org.br/transgenicos/pdf/guia_consumidor_4.pdf).
Para elaborar o guia, o Greenpeace envia cartas às indústrias de alimentos que utilizam derivados de soja e milho na composição de seus produtos. Quem responde com uma declaração garantindo que não utiliza ingredientes geneticamente modificados vai para a lista verde. Quem não responde ou não oferece a mesma garantia vai para a lista vermelha.
O aumento do número de empresas pesquisadas, de 80 para 108, fez com que também subisse o total daquelas que não asseguram que não usam transgênicos, de 48 para 60. O porcentual, no entanto, caiu de 61 % para 56%.
Pesquisador alerta para riscos
Segundo o pesquisador americano Jeffrey Smith, os alimentos geneticamente modificados não são seguros para o consumo humano. Ele explica que os efeitos colaterais produzidos pelos transgênicos são imprevisíveis, mas alertou que uma série de consequências já foi detectada por pesquisas independentes, como sintomas de alergias e alterações no sistema imunológico.
Smith está no Brasil a convite da Secretaria Agrária do PT gaúcho e entidades não-governamentais, onde está divulgando informações de seu livro, que servem para alertar as pessoas em relação ao consumo do produto.
O pesquisador surpreendeu-se com o fato do Rio Grande do Sul estar plantando o que maior parte do mercado externo rejeita, a soja transgênica. Ele reitera que atualmente o Brasil está chamando a atenção no mundo, pois o país pode prover os mercados europeu e asiático com produtos convencionais. Acrescentou ainda que os Estados Unidos estão perdendo mercado em função do plantio das sementes geneticamente modificadas.
Smith informou que as lavouras de soja tiveram uma queda de produtividade de 6% ao ano. Ele contou também que já foram registrados cerca de 100 mortes, além de quase 10 mil pessoas que ficaram doentes ao consumir o suplemento alimentar que continha aminoácido essencial L-triptófano, modicado geneticamente. "Através dos sintomas desencadeados pelo suplemento, foi possível detectar a causa das mortes", alertou.
Na opinião de Smith, os transgênicos só estão no mercado em razão da pressão exercida pela indústria junto aos órgãos governamentais e comunidades científicas, além da manipulação e pressões sobre as informações.
Jornal do Commercio, Brasil, 14-4-04