O desafio da fome na África


Prensa



Jornal do Brasil, Internet, 1-9-02
http://www.jb.com.br/jb/papel/internacional/2002/08/31/jorint20020831008.html

O desafio da fome na África




Por Carlos Tautz


JOHANNESBURGO - O canadense Pat Mooney não se formou em qualquer universidades, mas é considerado um dos mais completos ativistas antitransgênicos do mundo, aliando um profundo domínio técnico a uma visão geopolítica refinada do problema dos organismos geneticamente modificados (OGMs).

''As grandes corporações e universidades dos Estados Unidos criaram um sistema de licenças para os países do sul da África cultivarem transgênicos e vendem a idéia de que estão promovendo uma ação positiva'', alerta Mooney, que desde o final de 2001 também se dedica à nanotecnologia.

Para Mooney, que é diretor da ONG Erosion, Technology and Concentration (ETC), os alimentos transgênicos estão sendo discutidos nos corredores da Cúpula Mundial Sobre Desenvolvimento Sustentável como solução para a fome na África.

Nos primeiros dias da Cúpula da Terra, a FAO, organismo das Nações Unidas para agricultura e alimentação, divulgou relatório informando que 13 milhões de pessoas no sul da África passam fome e que são necessários US$ 507,3 milhões em ajuda para enfrentar o problema, decorrente de secas,  chuvas intensas e inundações.

Segundo Mooney, as grandes corporações vendem ou enviam para este continente (sob a forma de ajuda humanitária) cereais OGMs, que são recusados pela Europa e pela China, os dois maiores compradores mundiais de soja e milho e seus produtos derivados.

''As corporações avaliam que, plantando produtos modificados geneticamente na África, conseguirão pressionar a Europa a voltar a consumir transgênicos, uma vez que comprar a colheita da África significa ajudar o continente a sair da miséria'', alerta.

Na avaliação do ativista canadense, o Brasil poderia suprir a África com produtos não-transgênicos e, assim, terminar de vez com a idéia de que só há alimento geneticamente modificado disponível no mundo.

''Em todo o planeta, só há três grandes produtores: Estados Unidos, Canadá e Argentina, que detêm 99% da produção mundial de transgênicos. O restante do mundo pode ajudar a suprir a África e mostrar que não precisamos daqueles três países'', explica Mooney.

O papel do Brasil neste cenário é absolutamente estratégico, segundo Pat Mooney, uma vez que o país é o último grande produtor e exportador de soja não-transgênica para a Europa. ''Se o Brasil capitular aos transgênicos, não haverá outra alternativa de compra de grandes quantidades de soja não transgênica e a Europa voltará a consumir alimentos modificados geneticamente''.

Aceitar a plantação de transgênicos significaria, na avaliação do ambientalista canadense, uma desgraça para o país, que perderia o mercado europeu e teria sua megabiodiversidade destruída pela contaminação dos ecossistemas por transgênicos.

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