Petroleiras cometem um ‘crime contra a humanidade e a natureza’, diz climatologista

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Hansen denuncia sobretudo “o vasto desajuste entre o conhecimento da comunidade científico competente e que é do conhecimento dos políticos e do grande público”. Para explicar as poucas ações dos últimos 20 anos para impedir a mudança climática, ele questiona os “interesses particulares” que privilegiam seus “lucros no curto prazo”

Em 23 de junho de 1988, sob um calor intenso, o climatologista James Hansen testemunhava diante de uma comissão parlamentar do Congresso dos Estados Unidos. Ignorando as precauções anunciadas na época pelo conjunto da comunidade científica, ele anunciava que era “99%” certo que o clima terrestre tinha entrado num período de aquecimento provocado pelas atividades humanas. A reportagem é de Stéphane Foucart e está publicada no Le Monde, 25-06-2008. A tradução é do Cepat.

A intervenção foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação e entrou nos anais como a entrada do aquecimento global no debate público... Convidado por representantes democratas, nesta segunda-feira, dia 23, para falar novamente a uma comissão do Congresso, James Hansen, de 67 anos, reiterou suas admoestações com tão poucas reservas quanto há 20 anos.

Amplamente difundido na Internet, o texto de sua intervenção traça, primeiramente, o estado em que se encontram os conhecimentos sobre o clima. Segundo o diretor do Goddard Institute for Space Studies (GISS) – um dos principais laboratórios de ciências climáticas da NASA – a máquina climática está próxima de um “perigoso ponto de não retorno”. É preciso mudar, diz, as práticas agrícolas e florestais, taxar o carbono, estabelecer uma moratória sobre a construção de novas centrais de carvão e banir completamente essas últimas, a nível mundial, até 2030.

O pesquisador prognostica uma elevação do nível dos mares em torno de dois metros para o final deste século se nada for feito para limitar as emissões de gases de efeito estufa – estimativa bem superior àquelas geralmente anunciadas.

“O alarmista de plantão”

Hansen denuncia sobretudo “o vasto desajuste entre o conhecimento da comunidade científico competente e que é do conhecimento dos políticos e do grande público”. Para explicar as poucas ações dos últimos 20 anos para impedir a mudança climática, ele questiona os “interesses particulares” que privilegiam seus “lucros no curto prazo”.

A proposta é de uma violência incomum. “As sociedades que têm seus interesses nos combustíveis fósseis propagaram a dúvida sobre o aquecimento, da mesma maneira que os fabricantes de cigarros procuraram desacreditar a ligação entre o consumo de tabaco e o câncer”, escreve Hansen. “Os executivos dessas sociedades sabem o que fazem e conhecem as conseqüências no longo prazo de um cenário business as usual”, acrescenta o pesquisador. “No meu ponto de vista, esses dirigentes deveriam ser condenados por crime contra a humanidade e a natureza”.

Apesar de sua reputação científica, James Hansen, apelidado de “alarmista de plantão” por seus detratores, está constantemente no centro de polêmicas. No final de 2007, testemunhando diante de uma comissão encarregada de decidir sobre a construção de uma central de carvão em Iowa, ele comparou os comboios de carvão aos “trens da morte” que atravessavam a Europa durante a segunda guerra mundial.

Em 2005, Hansen havia revelado ao New York Times que seu trabalho estava submetido a uma censura política da administração central da NASA, com vistas a não debilitar as posições da Casa Branca. O administrador da Agência espacial americana Michael Griffin havia desmentido que um sistema de censura tenha sido formalmente posto em prática em sua administração.

Uma pesquisa interna da NASA, publicada no dia 2 de junho, concluiu, entretanto, que “o departamento de assuntos públicos do quartel geral da NASA havia tratado o tema da mudança climática de maneira a reduzir, marginalizar ou distorcer os resultados das ciências do clima”.

Instituto Humanista Unisinos, Internet, 28-6-08

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