Agrotóxicos perigosos. Bayer e BASF: um negócio global com dois pesos e duas medidas

Empresas fabricantes de agrotóxicos no mercado global estão sendo cada vez mais criticadas por causa de seus produtos nocivos ao meio ambiente e à saúde. Assim, vários ingredientes ativos, todos de nomes difíceis, estão sendo objeto de debate público: glifosato, neonicotinóides, clorpirifós. Mas o que, até agora, continua sendo pouco observado é a política de dois pesos e duas medidas que conglomerados como Bayer e BASF adotam em relação aos seus agrotóxicos nos mercados globais.

Os fabricantes alemães de agrotóxicos produzem numerosas substâncias que já não são mais permitidas na União Europeia (UE), exportandoas para países do Sul global, nos quais as regulamentações para o uso de agrotóxicos são bem mais permissivas. Uma pesquisa da Pesticide Action Network (Rede de Ação contra Agrotóxicos – PAN) revelou que, em 2017, a Alemanha exportou 62 ingredientes ativos de agrotóxicos classificados como altamente perigosos (ver box), correspondendo a mais de um quarto do total de substâncias exportadas. Nove desses ingredientes ativos altamente perigosos exportados são banidos na UE em razão de sua nocividade.

Diversos casos do uso de agrotóxicos da Bayer e da BASF na África do Sul e no Brasil apresentados nesta publicação mostram os dois pesos e duas medidas utilizados no negócio global com esses produtos. Ambas as empresas comercializam na África do Sul e no Brasil no mínimo 28 ingredientes ativos que são banidos na União Europeia: no caso da BASF são pelo menos 13 e da Bayer, pelo menos 15. Sete substâncias (cinco da Bayer e duas da BASF) tiveram sua permissão de uso negada depois do processo de registro, ou tiveram seu registro explicitamente revogado pela UE.

Ao todo, há 14 substâncias da Bayer e da BASF na lista da PAN de agrotóxicos altamente perigosos, seis da BASF e oito da Bayer. Entre outros, a Bayer comercializa os perigosos ingredientes ativos carbendazim e propineb. No caso da BASF constam, por exemplo, o clorfenapir, a cianamida, o glufosinato e o saflufenacil (para mais detalhes, ver Anexos 1 e 2).

A comercialização de agrotóxicos na África do Sul e no Brasil é exemplar diante da grande importância que os agrotóxicos altamente perigosos da Bayer e da BASF têm no mundo inteiro: 36,7% de todos os ingredientes ativos vendidos no mercado mundial em 2018 pela Bayer e 24,9% pela BASF são altamente perigosos, de acordo com a definição da PAN.

No mundo inteiro, os conglomerados alemães Bayer e BASF desempenham um papel central. Depois de adquirir, em 2018, a empresa Monsanto – que produz o famigerado glifosato – a alemã Bayer passou para a pole position no mercado mundial de sementes comerciais e ocupa o segundo lugar no ranking do mercado global de agrotóxicos, logo depois da Syngenta (que, desde 2017, pertence à ChemChina), com faturamento anual de 10,6 bilhões de dólares em 2018. Mas a BASF também lucrou com a fusão entre a Bayer e a Monsanto, pois com as condições impostas pelas autoridades anticartel, a Bayer foi obrigada a se desfazer de algumas partes do seu negócio, que foram compradas pela BASF. Dessa maneira, a BASF ascendeu ao terceiro lugar na lista de empresas líderes no setor de agroquímica, faturando anualmente 6,9 bilhões de dólares. Depois da China, a Alemanha é o segundo maior exportador de agrotóxicos no mundo, com volume de exportações no valor de 4,3 bilhões de dólares – antes ainda dos EUA, que faturaram 4,2 bilhões de dólares em 2018 –, e detém uma fatia de quase 13% no negócio global de exportações de agrotóxicos. Ao mesmo tempo, não devemos deixar de atentar para o fato de que as antigas plantas de produção da Monsanto nos EUA pertencem agora à Bayer e que, contando as exportações da Bayer dos EUA para outros países, empresas alemãs passaram a deter uma parcela ainda maior na exportação, principalmente para países do Sul global.

- Para fazer o download do relatório completo (pdf), clique no link abaixo:

Fonte: Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Temas: Agrotóxicos, Corporaciones

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