Conflitos no campo Brasil 2024

Idioma Portugués
País Brasil

Os últimos anos têm apresentado recordes no número de registros de Conflitos no Campo no Brasil desde o início da publicação, em 1985. Apesar da pequena queda em 2024, em relação a 2023, o ano passado ainda apresenta o 2º maior número de conflitos na história do registro da CPT.

“Romper Cercas e Tecer Teias: A Terra a Deus Pertence! (cf. Lv 25)”

O ano de 2025, em que comemoramos 50 anos da Comissão Pastoral da Terra, é também de celebrar os 40 do seu setor de documentação, criado em 1985, com a publicação de seu primeiro Caderno de Conflitos em 1986. Coincidentemente, em 27 de fevereiro último, “encantou-se”, aos 88 anos, o p. Mário Aldighieri, o seu iniciador.

Por tantos suficientes motivos, este Caderno de Conflitos, referente a 2024, aqui apresentado, além de denúncia e anúncio como sempre, é também de celebração jubilar. Consta que o p. Mário, desde que chegou como secretário-executivo nacional da CPT, em 1979, atento e metódico historiador que era, passou a anotar os relatos de conflitos agrários trazidos nas reuniões ordinárias dos diretores da CPT, vindos das Grandes Regiões do país em que ela se organiza. Sob a censura imposta aos meios de comunicação pela Ditadura Civil-Militar de 1964, isso não era notícia nem havia outras fontes de informação confiáveis. O primeiro Caderno, publicado em 1986, era basicamente dessas suas anotações e inaugurou o setor de documentação, que em 2013 passou a ser chamado Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno – CEDOC, em homenagem a um dos criadores da CPT, que se encontrava em grave estado de saúde e veio a falecer meses depois, no ano seguinte, aos 91 anos.

Duas mulheres de luta também merecem ser aqui lembradas: ir. Dorothy Stang, da CPT Pará, no 20º ano de seu assassinato, pelo qual aqueles dos mandantes e executores que foram condenados logo foram soltos ; e Elizabeth Teixeira, a histórica líder das Ligas  Camponesas, “mulher marcada para viver”, no seu 100º aniversário.

E mais um homem – Antônio Canuto, um dos criadores da CPT e dos seus agentes mais contínuos, dedicados e fiéis, inclusive na documentação de conflitos e como escritor de suas histórias, falecido em 03/12/24, aos 83 anos. Jubileu na tradição bíblica, conforme o capítulo 25 de Levítico, era “ocasião para restabelecer uma correta relação com Deus, entre as pessoas e com a criação, e implicava a remissão de dívidas, a restituição de terrenos arrendados e o repouso da terra”.

É nesta perspectiva e intenção que a CPT celebra seu cinquentenário com o V Congresso Nacional, a ser realizado entre os dias 21 e 25 de julho, em S. Luís, do Maranhão cujos agentes pastorais tiveram importante papel na criação e consolidação desta inovadora pastoral. O tema do congresso é “CPT 50 anos - Presença, Resistência e Profecia”, o lema é o que serve de epígrafe a esta apresentação e o símbolo o tambor, cujo batucar é de dança, culto, convocação e ritmo de caminhar.

Infeliz e desafiadoramente, mais uma vez, os dados, análises e reflexões deste Caderno, aos 50 anos da CPT, vão na direção contrária, anti-jubilar. Tanto mais quanto – como sempre sofremos nestas ocasiões de documentar, quantificar e elaborar estatísticas e análises –, por trás dos números buscamos os rostos ainda mais sofridos de pessoas, famílias, comunidades, povos... Sejam as páginas seguintes, ao menos, em nome deles e delas, gritos de memória, denúncia, anúncio e esperança.

A estes olhares, rostos, gritos e apelos se somam centenas de outros, retrospectivos, facilitados pelo acervo de fotos aqui republicadas. Entre as inúmeras violências de sempre, o ano de 2024 foi marcado por enchentes e inundações, secas severas, incêndios criminosos e contaminações por agrotóxicos.

Vários Projetos de Lei tramitaram em Assembleias Legislativas Estaduais e no Congresso Nacional com objetivo de dar caráter de legalidade a investidas do agro-hidro- -mínero-carbono-negócio, a reboque da Extrema-Direita nacional e internacional em ascensão numa tentativa salvar o sistema capitalista em crise profunda (terminal?), contra a mobilização de trabalhadores e trabalhadoras em luta pelo acesso e permanência na terra, de indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais em retomadas e busca de reconhecimento de seus territórios. Estes resistem como podem, a sinalizar pistas de efetiva sustentabilidade eco-social. É nesse embate violência versus resistência, que a CPT apresenta os dados dos conflitos no campo, ano 2024, como contribuição à resistência.

- Para fazer o download do relatório completo (PDF), clique no link abaixo:

Fonte:  Comissão Pastoral da Terra (CPT)

Temas: Tierra, territorio y bienes comunes

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