Tem veneno nesse pacote #1
A pesquisa, que analisou produtos além dos problemas de saúde causados pelo consumo de ultraprocessados, como doenças crônicas como as cardiovasculares, diabetes e câncer, descobrimos que 59,3% dos produtos analisados apresentaram resíduos de pelo menos um tipo de agrotóxico. 6 categorias de produtos foram analisados: Refrigerantes, Néctares, Bebidas de Soja, Cereais matinais, Salgadinhos, Biscoitos de água e sal, Biscoitos recheados e Pães de Trigo. Das 27 marcas analisadas, 16 tinham pelo menos um tipo de agrotóxico.
A luta pelo direito à alimentação adequada e saudável está pautada em dois princípios. O primeiro é o acesso universal a alimentos saudáveis, com a ampliação do acesso a alimentos in natura, a partir de sistemas produtivos que dependam cada vez menos do uso de agrotóxicos. E nesse sentido, questiona-se o atual modelo agrícola brasileiro, baseado na monocultura, que visa a atender a grande demanda por commodities, como soja, milho, trigo e açúcar, e torna-seinsustentável dos pontos de vista social, ecológico e sanitário.
O segundo está relacionado aos impactos negativos causados pela produção e consumo de produtos ultraprocessados. Esses produtos contêm grandes quantidades de ingredientes nocivos, como açúcar, sal e gorduras, além de aditivos alimentares, e estão intimamente relacionados à alta prevalência de doenças do coração, diabetes, cânceres, dentre outras DCNTs (doenças crônicas não transmissíveis).
Além disso, causam danos ao meio ambiente ao terem sua produção dependente do uso intensivo de recursos naturais e ao utilizarem como ingredientes principais as commodities que vêm de produções baseadas em monoculturas, dentre outros aspectos.
No Idec, a causa da alimentação saudável e sustentável é uma das nossas grandes prioridades, e discutimos há anos os problemas da contaminação de alimentos com resíduos de agrotóxicos, os malefícios trazidos pelo consumo de ultraprocessados e a ausência de medidas eficazes para a proteção da saúde dos consumidores. De forma alinhada aos nossos objetivos institucionais, apresentamos neste documento evidências sobre a contaminação de produtos ultraprocessados com agrotóxicos.
Pesquisamos produtos alimentícios consumidos pelos brasileiros e os levamos para análise em um laboratório que é referência nacional, acreditado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e que conduz avaliações internacionais, inclusive para as próprias indústrias alimentícias. Nossa hipótese se confirmou: resíduos de 13 tipos de agrotóxicos foram encontrados nesses produtos ultraprocessados. Em um simples biscoito água e sal, por exemplo, encontramos resíduos de até sete agrotóxicos!
Esses dados nos permitem afirmar que ultraprocessados são prejudiciais em diversos aspectos, materializando o conceito de sindemia global que exploramos no decorrer deste documento. São informações cruciais para a luta por melhores políticas públicas. Porém, não podem induzir os consumidores a erro: ao ouvir falar que pimentão, morango, pepino e alface, por exemplo, contêm agrotóxicos, as pessoas não devem ser estimuladas a trocar esses alimentos por produtos ultraprocessados.
A pesquisa reforça a necessidade da ampliação da fiscalização de ultraprocessados pelos órgãos reguladores e da adoção de medidas que favoreçam escolhas alimentares mais saudáveis e sustentáveis pelo Estado. A indústria, por sua vez, deve ser responsabilizada e exigida a utilizar melhores práticas, garantindo a saúde e a segurança dos cidadãos.
Esperamos que essas descobertas possam contribuir para o debate sobre a necessidade de mudançanos sistemas alimentares, além de representar uma virada na forma como nos relacionamos com a indústria alimentícia e o agronegócio e dar um novo ímpeto nas discussões de políticas públicas muito mais efetivas e rigorosas.
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