Brasil: Posição do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra sobre os transgênicos

24-3-03

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem, através desta alertar a opinião pública que estamos sendo vítima de uma tentativa de desqualificar e deslegitimar a nossa Organização perante a sociedade e aliados históricos na luta contra os transgênicos. Sobretudo, pretendem colocar o Movimento na vala comum daqueles que sempre se posicionaram favoráveis a liberação da produção e comercialização destes produtos.

A matéria divulgada pela imprensa local e nacional, que procurou vincular o MST ao cultivo de produtos transgênicos nos assentamentos, é um exemplo de uma armação pensada, maquiavelicamente, por setores que são ideologicamente contra o MST, contra a reforma agrária e favoráveis aos transgênicos. Cabe destacar que o agricultor assentado que apareceu na reportagem é dissidente do MST, não pertence ao Movimento e foi articulado para depor na reportagem.

O MST já participou com outros Movimentos do campo e da cidade em muitas manifestações contra os transgênicos, entre elas: a destruição de uma lavoura experimental de soja transgênica da MONSANTO, em Não Me Toque; tentamos impedir o descarregamento de um navio de milho transgênico proveniente da Argentina, no porto de Recife, fizemos uma manifestação em um supermercado de Porto Alegre, recolhendo os produtos que contém comprovadamente transgênicos na sua composição; estivemos presentes em seminários e no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher ,entramos no escritório da MONSANTO em Porto Alegre, quando espalhamos um saca de semente de soja com uma caveira simbolizando a morte. Em contraposição ao projeto de privatização das sementes, no último Fórum Social Mundial, a VIA CAMPESINA Internacional lançou a Campanha ? Sementes, Patrimônio da Humanidade, em um ato público no Assentamento 30 de Maio, Charqueadas/RS. Entre outras ações também destruímos uma lavoura de soja transgênica em um assentamento do Movimento, esta ação em particular, não teve um caráter punitivo, mas sim de manifestar nossa posição e alertar para os malefícios econômicos, políticos, ambientais, para a saúde e culturais que representa a liberação dos produtos transgênicos.

Para o MST, a sociedade brasileira , em particular a gaúcha, esta sendo vítima de uma conspiração patrocinada pelos defensores dos transgênicos. Enquanto 71 % da população brasileira não quer consumir estes produtos, a MONSANTO e seus aliados ( grandes cooperativas, pesquisadores de universidades financiados pelas transnacionais e dirigentes políticos de organizações ligadas a agricultura patronal e aos latifundiários) promoveram um conjunto de ações baseadas na propaganda enganosa na manipulação de informações e na viabilização do contrabando de sementes. Sabem eles, que uma das poucas alternativas de expansão dos seus negócios e de aumento de seus lucros, está diretamente vinculada a possibilidade de liberação dos transgênicos no Brasil. Este país tem vocação agrícola tem capacidade de produzir e atender o mercado internacional de grãos.

O clima gerado pela conspiração evidenciadas nas ações e omissões levaram agricultores a acreditar que a ilegalidade do cultivo dos transgênicos não era ?para valer?. Pouco a pouco, mais e mais agricultores foram vendo vizinhos plantarem sem qualquer conseqüência e que a ilegalidade era temporária, sem risco real. As autoridades pela omissão, contribuíram para a situação do fato consumado, assumiram uma cumplicidade com os atos, ? fecharam os olhos? para os fatos.

O Movimento Sem Terra é contra o plantio e comercialização dos produtos transgênicos e vai continuar lutando para que a MONSANTO, empresa que viabilizou a comercialização ilegal das sementes seja responsabilizada criminalmente, e pague indenização às famílias dos pequenos agricultores que foram enganados. Como demonstração do nosso compromisso de luta contra os transgênicos, as empresas sociais (cooperativas e associações) do Movimento não irão receber e comercializar produtos transgênicos.

Entendemos que do ponto de vista estratégico, o que evidenciamos é uma demanda crescente no mercado internacional pelo grão não transgênico. Neste sentido, o Brasil é o único país de suprir a demanda, já que tanto os Estados Unidos como a Argentina, que são grandes exportadores de grãos, já aderiram aos transgênicos.

Por fim, manifestamos nossa preocupação de que os agricultores que não infringiram a lei, que foram honestos, tenham sua comercialização garantida e devidas compensações.

Porto Alegre, 21 de março de 2003.

Direção Estadual MST/RS.

REFORMA AGRÁRIA; POR UM BRASIL SEM LATIFÚNDIO E LIVRE DOS TRANSGÊNICOS.

Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra - MST
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